O caso da citação literária

“Pormenores que faltam ao agridoce para ser um blogue respeitável: uma citação literária no cabeçalho. Nem que seja retirada da Dica da Semana.”
Hum... Vamos lá ajudar o agridoce a tornar-se respeitável. Sempre se deve arranjar qualquer coisa melhorzita que uma dica da semana. Ora vejamos. Isto não... Esta, talvez... Espera lá, esta é boa, condiz perfeitamente: “Um blogue renascido para um povo destemido”. Que tal? Grande citação, não é? Não é uma citação porque foi o próprio bloguer a inventá-la? Oh, diabo, isso é um problema. Mas mesmo assim. Deixe-me pôr a questão de outra maneira: não será literatura? Quer dizer, quando se fala de uma citação literária, mais importante do que a citação, não será o ela ser literária, quer dizer, literatura? Não? É mesmo da citação que se fala, da protecção de uma autoridade... Compreendo, compreendo perfeitamente. É irónico, claro, onde é que eu tinha a cabeça, agridoce faz gala em não ser um blogue respeitável. É isso, “o povo destemido”. Mas não é que se ergue desde logo um problema, outro problema, afinal o mesmo problema? É que a epígrafe lá está. No agridoce há uma epígrafe, invenção do bloguer. É literatura. E toda a literatura é citação. Citação de outros, citação do próprio no próprio acto de inventar matéria citável. Oh, eu sei, é domingo, e está na hora do lanche. Só queria mesmo dizer que nestas matérias, em que o blog é de alguma forma um derivado da literatura, é impossível não ser-se respeitável. Tão impossível como a literatura não ser logo respeitável. Está bem, às vezes leva o seu tempo, uns seculozitos, umas prisões, coisas até mais graves como condenações à morte ou assassínios sumários, mas no fim a respeitabilidade vem sempre ao de cima. Deus não dorme, apenas descansa. Ite, missa est.

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