Ideias com futuro

- Já falei com eles.
- E sempre era o que pensavas, Leitora?
- Claro. Há boas perspectivas de emprego.
- Fico contente. Mas ao certo, em que consiste a coisa?
- Fácil. No caso das mulheres que quiserem abortar, primeiro têm de demonstrar que não foi culpa delas terem engravidado. Se não houver essa prova, os nossos impostos não custearão os seus erros. Tomavam anticonceptivos e estão nos 2% de casos em que a coisa pode falhar? Provem. Foram violadas? Provem. O resto só pode ser culpa delas. É um trabalho fácil.
- De facto.
- E com futuro, porque isto é apenas o primeiro passo. O grande passo virá a seguir.
- E qual é ele?
- Muito simples. Nem sei porque não se lembraram disto mais cedo, porque vai resolver uma boa parte do problema do Sistema Nacional de Saúde.
- Estou a ficar interessado...
- Imagina que chegas a uma urgência com sintomas de ataque cardíaco. A primeira coisa a determinar é se isso é culpa tua ou não. O teu médico não te mandou mexeres-te pela tua saúde, e tu em vez disso ficaste sentado em casa a ver televisão? O teu médico não te avisou que não podias stressar tanto, e tu continuaste a lutar por subires de posto para finalmente poderes comprar a casa ou pagares os estudos dos filhos na universidade? Pois bem, se o teu médico te avisou, os nossos impostos não custearão os teus erros.
- Estou a ver, é realmente uma poupança, é bem capaz de resolver uma parte do problema. E como se vai chamar esse novo emprego?
- Controladora das portas do purgatório.
- Hum... mas o purgatório não foi recentemente anulado pelo Vaticano?
- Precisamente. Agora já pode ser usado pela sociedade civil sem que se ande para aí a dizer que são uns quantos a quererem impor as suas ideias religiosas aos outros.

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