Como um tapete todo sujo # 3. Casa

Só se sabe o que é uma casa quando fechamos a porta e estamos sós. O seu grau de limpeza, a arrumação, a abertura à luz, as coisas que estão no frigorífico e na despensa, os toalhões de banho, os jornais e os livros, tudo o que faz uma casa viva. Só se sabe o quanto uma casa é nossa quando fomos nós a fazer essas escolhas.
Ele tinha uma casa e Ela tinha uma casa. E em cada uma dessas casas havia outra pessoa que tinha escolhido com cada um deles essa casa. Ele tinha uma casa que era de ambos e Ela tinha uma casa que era de ambos. Mas os ambos não eram eles. Ela dizia: isto é um amor sem eira nem beira. Ele marcava os hotéis, sempre diferentes. Ela perguntava: como seria a nossa casa? Mas não esperava resposta. Ambos sabiam que não há resposta antecipada para isso. É como dançar. O que cada um é capaz, não se soma ao que o outro é capaz. Também nunca dançaram juntos.

Anteriores: 1. Epígrafe; 2. Rodar;

0 comentários: