O silêncio dos livros: nota 2 [adenda]


Carlos Leone, por mail, objecta-me que «resistência» faz parte de governar, pela governação resiste-se ao caos e à morte. E que tal como a governação, nem toda a resistência é intrinsecamente boa. Tem razão. O desconstrucionismo da minha nota 2 foi demasiado rápido, demasiado preso à memória de parte de uma geração para a qual «resistência» tinha uma conotação inequivocamente positiva e anti-stablishement. O que é mais curioso é que em termos de pensamento eu paguei algum preço por noutros lados ter tentado mostrar que não há “imaculada concepção do social”, ou seja, por ter tentado mostrar a impureza e mistura de governar e resistir. Mas basta um post menos vigiado e a velha matriz regressa. Coisas de um coração à esquerda, sem dúvida. O melancólico nisto é perceber-se o quanto um coração à esquerda pode ser também obstáculo a um pensamento à esquerda. Ainda que vistas as coisas de outro ângulo, tudo se possa subsumir em condições para o desconstrucionismo. Que são árduas, como se vê.

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