Um mix, why not?

Cole Porter é como o Algarve: o território é de excelência, mas o que têm feito por lá é por vezes de bradar aos céus. Vale que Patricia Barber é incapaz de um álbum mau. Mesmo assim, a uma primeira passagem, destaque apenas para os solos de Chris Poter, o único a parecer possuído do espírito barberiano de outros álbuns, e para o penúltimo tema, “Miss Otis Regrets”, por acaso dos que menos gosto do cancioneiro de referência de Porter mas que aqui é o exemplo conseguido da re-leitura que se esperaria de Patricia Barber: um som sujo, enegrecido, e uma voz que sublinha com secura o que em cada esquina da existência há para perder de uma vez por todas. O resto pareceu-me um desses hotéis que promete um je ne sais quoi, mas que se revela afinal mainstream sóbrio e de impecável bom gosto. E mesmo quando a uma audição mais atenta se percebe que o bom gosto é até uma re-leitura subtil e que Patricia Barber se permite à-vontade em terrenos que não costuma frequentar, fica sempre a sensação de que era bem outro o álbum que nos era devido. Dito isto, diga-se também, em abono da verdade, que este mix não desiste tão facilmente como isso de se insinuar por entre as cores ainda quentes deste Outono.

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