O cânone é um tigre de papel

Eu não pergunto nada ao João Tordo porque, por princípio, tomo as afirmações dos escritores em entrevistas como sintomas e não como argumentos. Que o escritor passe isso a ensaio, e então conversaremos. Mas quando um crítico como o Eduardo Pitta parece tomar esses sintomas como argumentos também seus, aí já me apetece fazer perguntas.
Eduardo, acha mesmo que o cânone português manda que se escreva hoje como nos idos de 50, 60 e 70 do século passado? Leio nos jornais e não encontro ninguém que pense isso (e para simplificar, desconto já o António Guerreiro). Leio na academia e encontro as coisas mais díspares, como aliás seria natural porque o processo está em aberto — mas em todo o caso leio muito menos defesa ou valorização do experimentalismo para hoje do que defesa e valorização dos tais romances que querem contar uma história.
Acha mesmo que "Existe um conjunto de regras das quais não se deve sair se queremos fazer o que cá se chama literatura"? Serão as tais do abjecionismo metafísico que fo Eduardo diz ter constituído o mito da nossa ficção dos anos 60? Mas mesmo que esse mito o tenha sido de facto (o que concedo com ressalvas), onde está ele hoje a não ser na história que desse tempo literário se tenta ir fazendo?

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