O «eduquês» como bode expiatório (2)

Outra dimensão das críticas ao eduquês prende-se com os fracos resultados do país nos testes internacionais de literacia. Mais uma vez, há sobretudo duas coisas que se escamoteiam.
A primeira, quando a comparabilidade é com os países de leste recém-entrados na UE, consiste em esquecer que esses países têm uma experiência histórica de ensino universal muito mais longa que a nossa, e com investimento real continuado. A segunda, quando o referencial são os países asiáticos ou a Índia, é esquecer que nos estamos a comparar com um sistema de ensino basicamente elitista, tão elitista quanto era o nosso ensino aquando do 25 de Abril (se fizéssemos um exercício de extrapolação, e considerássemos nos nossos resultados apenas a percentagem de alunos proporcional àquela que tínhamos no ensino na época do 25 de Abril, a nossa posição internacional seria bem diferente).
Obviamente, não quero dizer com isto que não há qualquer problema, muito pelo contrário. Mas as discussões suscitadas seriam bem diferentes se lêssemos sem procurar bodes expiatórios simples.
Voltando, por último, à questão de ontem, considere-se por momentos que até seria verdadeira a tese de que nos falta disciplina para ensinar e para aprender. Mas não será que, para o caso português, se poderia construir uma tese análoga relativamente a todos os sectores e serviços da sociedade? Incluindo o político, que nos seus vários quadrantes foi sucessivamente perdendo a oportunidade de realizar as tão apregoadas reformas estruturais, e por junto a reforma das mentalidades? É tudo culpa do “eduquês”? Seriam bem fáceis as soluções se tal fosse o caso...

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