O primeiro round

Daqui deste canto, não me parece que Israel, os Estados Unidos ou o Ocidente tenham ganho grande coisa com esta guerra. O Hezbollah está mais longe, territorialmente falando? É um facto. Mas está mais fraco? Ideologicamente, é óbvio que não. Ganhou mártires e sobretudo candidatos a mártires. Vai ficar militarmente mais fraco? É provável. Mas este foi apenas o primeiro round de um combate em que os adversários fundamentais não são exactamente aqueles que agora entraram em cena. O problema central para os próximos tempos será o Irão. Mais do que central, decisivo. Tenho para mim que um Irão nuclear é alguma coisa que o Ocidente simplesmente não pode permitir. Antes deste conflito, havia hipóteses de conseguir travar o nuclear iraniano por meios políticos e com o apoio de algumas nações arábes. Agora, essa possibilidade parece bem mais remota. Neste xadrez, é óbvio que a ala mais radical americana e israelita quer isso mesmo. E a ala mais radical islâmica quer também esse horror sem nome. No momento certo, cada um aos seus, vão-nos dizer que esse é o preço a pagar e que não há outro possível. E de nada nos valerá dizer que as coisas poderiam ter sido diferentes, porque já não haverá provavelmente tempo de as coisas poderem ser de facto diferentes. Mas também, queixamo-nos de quê? Aos nossos, ocidentalmente falando, escolhemo-los nós. Houve avisos mais que suficientes, mas escolhemo-los nós. E ir para onde? Não há um fora disto, lugar nenhum onde não tenhamos de viver com a consciência crua disto. Mas até isso, chegado o momento próprio, nos tentarão roubar com as suas legitimações imediatistas, de modo a que nada se aprenda nem nenhum juízo possa ser feito. E o mais certo, é terem a nossa conivência quase universal.

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