Psicopatologia da vida quotidiana

Lembram-se? Há décadas atrás, havia três espécies de casas-de-banho. Por ordem ascendente de status social: as que não tinham azulejos, as que tinham ajulezos até meio, as que tinham azulejos até ao cimo. Os azulejos até ao cimo tornaram-se depois a prática comum. Como dizia a minha mãe, mais higiénico e mais fácil de limpar. Por acaso também mais bonito, mais isso vem em segundo lugar, frisava. Pois bem, nas novas tendências da arquitectura & design & decoração, os azulejos ficam a três quartos da parede. Sublinhe-se: três quartos da parede. Nada de confusão com aquela mediania muito esticada e remediada que só chegava a meio da parede. Nem com aquele novo-riquismo que se exibia pletórico até ao tecto. Não, nada disso. O chique é a três quatros. O minimal em casa-de-banho. E as humidades, pergunta a gente já a ver crescer os fungos na tinta desvastada? Oh santa ignorância dos avanços práticos dos materiais de construção, diz o arquitecto & design & decorador: ele há toda uma gama de tintas impermeáveis, umas absorvem a humidade, outras expulsam-na, outras ainda convivem com ela numa indiferença olímpica. A gente põe um ar duvidoso e tenta argumentar por outro lado: mas não sei qual é a piada de parar quase lá em cima... É aí que se recebe a estocada final: esta é a nova tendência, o resto cansou. Mas estou a ver que vocês têm grandes resistências à mudança.

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