gesto 1


“O ponto é o início de um livro: surge antes da primeira letra da primeira frase

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Gonçalo M. Tavares, Investigações geométricas, p. 7 (citado por Pedro Eiras)

“O ponto é também o umbigo da página, a lembrança de um cordão — mas ligando ao não-ser.”
Pedro Eiras, A moral do vento. Ensaio sobre o corpo em Gonçalo M. Tavares, p. 16

O início só existe dentro do pacto ficcional. Pode dizer-se de muitas maneiras: ponto, voz, gesto, qualquer coisa que facilmente possamos reduzir a uma unidade mínima. O importante, no fundo, não é a unidade mínima, mas o facto de dela dizermos que é o início, um início.
O pacto ensaístico não permite esses inícios. A introdução não é um início, mas um protocolo que simula o início. Um início em ensaio é já o meio, algures no meio de qualquer coisa, em passagem (ponte, desfiladeiro, recta). Um entre. Mesmo “ligando ao não-ser”, que é um caso limite, pois parece quase um início. Mas é já uma passagem. Assim vai sendo um ensaio.

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