Fiama, quando outra palavra principia # 2

Durante alguns anos, em “Introdução aos Estudos Literários”, “grafia 1” era um dos textos de abertura. Não era logo para analisar demoradamente, apenas para recolher questões para ir pensando ao longo da disciplina. E depois do fim dela. Insistia muito neste ponto, como é óbvio.
A primeira questão envolvia o “se”. Umas rápidas pinceladas sobre o que podia ser o mundo ao abrigo da cláusula poética, e vinha o lema: a dura realidade das coisas é apenas a cozinha e a sala de jantar do real, há portas para outras divisões e jardins, e nessas divisões e jardins há sótãos vários e cada vez mais altos, caves cada vez mais fundas, e recantos da paisagem que nunca ninguém visitou. O “se” é apenas uma porta, é favor irem experimentando.
A segunda questão era simples. Eu dizia: claro que há outra grande poesia, ou outra grande literatura que parece mais imediatamente perceptível. Mas é uma questão de aparência, de facto. Essa literatura já abriu uma porta, está numa outra sala do “se” e toma-a legitimamente por mundo. Mas pouco se percebe se não se entender que “se” foi aberto — isto, claro, na medida em que se possa dizer que há algo para entender.
A terceira e última questão era ainda mais simples. Eu dizia: é bem provável que nos sótãos, caves, quartos e jardins onde me acontece interpretar, as coisas se desenrolem daquele modo segundo o qual “as palavras são densas de sangue e despem objectos”. Tanto quanto posso saber, este é o meu modo. Mas posso muito bem estar enganado. Posso muito bem, compreendem?
Era assim, com “grafia 1”.

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