Multiplex 25 – take two

- Claro que ela tinha que encomendar aquele fato de banho vermelho, Leitora. E claro que tinham que fazer amor num lugar quente. São requisitos de qualquer história assim, mas há lá mais do que isso.
- Desejo infantil de continuidade entre todas as coisas? Narcisismo primário, como força motriz de tudo aquilo que chamamos amor?
- Sim, desde que se entenda infantil como aquilo que temos de perder em troca de nada.
- Em troca de nada?
- Lamento, mas a maturidade e o estado adulto e tudo isso que é assaz louvável e civilizacional é nada perante a força desse desejo infantil.
- Mas eles renunciam de bom grado... Quer dizer, chocam de encontro à realidade e aprendem...
- Claro. O medo da morte é maior. É sempre maior. E vamos esquecendo, fazendo por esquecer para não ser insuportável lembrar. Mas de que se lembrarão eles à beira da morte?
- Não me vais dizer que se lembrarão um do outro, pois não?
- Não, não vou dizer isso. Mas lembrar-se-ão de um calor no corpo, de um vermelho, de uma chama: o que eles eram, o que era o verão neles, esse tempo.
- Bom, pelo menos seria assim que tu o escreverias...
- Sim, se soubesse dizê-lo, seria isso que diria.

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