Apenas uma janela entreaberta

- Tudo somado, continua a ser difícil escolher.
- Mas consegues somar tudo? Tens a certeza que juntaste todas as parcelas, todas sem excepção? E tens a certeza que elas são somáveis, que pertencem ao mesmo género, à mesma qualidade ou lá o que é?
- Essas perguntas não são para mim, pois não?
- Pretendiam ser.
- Não, não me parece. O ponto era apenas o de que continua a ser difícil escolher. Independentemente das parcelas.
- Ah, mas as parcelas... O que está antes, meu caro, o que condiciona. O problema está sempre antes. E se não o encontrares antes, vais encontrar a impossibilidade depois.
- Não percebo. Não vejo como se aplica.
- Mas verás, garanto-te. A única diferença é que nessa altura, quando perceberes, será levemente tarde.
- Levemente?
- Exacto, levemente. Nada trágico. Como uma brisa sobre um pano que desce. Ou nem isso. Nada de panos a descer. Apenas uma janela entreaberta, uma cortina que esvoaça, nós do lado de cá do tempo.
-Está frio. Não era melhor fechar essa janela?
- Como queiras.

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