Sob disfarce

Não interessa onde, nem em que loja, mas reconheci-a quando se me dirigiu. Antiga aluna, licenciada, empregada de comércio. Comecei a conversa pelo banal “está difícil dar aulas, não é?”, ela baixou a voz, fez-me mover para um pouco mais longe do balcão, e lá foi dizendo.
Deu aulas uns meses, intermitente. Depois houve aquela oportunidade e não hesitou: entrou para a Asae. Estava ali a trabalhar sob disfarce, para já e nos próximos anos as suas missões serão assim: infiltrar-se, ver por dentro, fazer o relatório, depois vem a Asae identificada e faz o que tem a fazer. O rol de lojas em que já trabalhou e as irregularidades detectadas deixaram-me de boca aberta. Não é que a gente não ouça umas coisas e imagine outras, mas a realidade comezinha é quase sempre mais gritante do que se imagina. E sempre os mesmos prejudicados: os que menos podem, por posição económica ou por ignorância e até medo. Estava contente, também por esse lado de justiça gostava do que fazia. Foi bom ouvi-la dizer isso. Exactamente isso.

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