Vivi pela espada, é justo que morra pela espada. Só nesta frase o conheci verdadeiramente e todos os equívocos se desfizeram. Soube enfim da sua lucidez e o modo como isso lhe permitia passar despercebido junto de todos. Conhecê-lo era começar a conhecer-me. Havia uma espada nas minhas mãos, ele o dizia. A sua morte à minha força e à minha vontade, sem que eu soubesse porquê. Mas não havia engano nas suas palavras. Eram palavras que não lhe pertenciam. O mundo falava das suas histórias de sempre, envolvia-nos nas suas histórias de sempre, ele limitara-se a descrever o que lhe calhara em sorte. Eu estava incluído na sua sorte. Eram palavras tão exactas e tão impessoais que soube que iriam ser também minhas. Daqui a alguns anos, daqui a muitos anos, naquele certo e determinado momento, iria dizê-lo a alguém, que tal como eu agora não faria ideia de que pertencia àquela história. Que tal como eu agora olharia minuciosamente a sua vida, procurando a espada, a fúria, a frieza, a determinação. Que tal como eu agora descobriria que desde muito cedo começara a viver pela espada, que nunca ousara sabê-lo embora o suspeitasse largamente, que havia um preço que alguém cobraria e que isso era o modo de o mundo continuar na sua trajectória.
Oráculo, ou A mesma história de sempre # 4
Luís Mourão
7.12.08 |
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