Acho que aquilo que Rui Bebiano diz sobre os seus amigos católicos é um excelente exemplo de como nós, deste lado ocidental e sobre nós próprios, somos capazes de todos os matizes em relação àquilo que conhecemos razoavelmente bem — é um dever de inteligência, em quem a cultiva, claro. Rui Bebiano conhece amigos católicos que, embora abertos e tudo mais, ficam com alguns espinhos de fora quando se toca no Papa. Mas Rui Bebiano não desconhecerá a existência de outros católicos que, acerca do actual Papa, o mínimo que dizem é criticar-lhe a “voz de padreca”. Aliás — mas isto seria uma outra conversa, e longa — dou comigo a pensar que face a essas minhas amigas católicas — por acaso são todas mulheres, o que também daria uma outra e longa conversa — , o meu ateísmo discreto e tranquilo é, como dizê-lo?, pouco ateu...
Os matizes em relação ao que conhecemos, e que nos levam, em muitas questões, a falar da posição oficial da Igreja Católica em vez da posição dos católicos, dando por adquirido que há católicos, e muitos, que divergem em vários assuntos da posição oficial dos seus líderes, devíamos também procurá-los em relação ao mundo árabe. A famosa “rua árabe” faz-me lembrar aquelas manifestações de apoio ao Estado Novo — aquelas pessoas estavam mesmo lá, e exactamente naquele número. E depois, no 25 de Abril, foi o que se viu.
Isto não invalida tomar a sério a “rua árabe” e desmontar os seus slogans assassinos — mas implica também procurar na “cidade árabe” aliados para essa tarefa. De outro modo, estamos a condenar O árabe em bloco, o que me parece ser um erro político colossal (porque esta minha posição é política, Carlos Leone, os textos, literatura incluída, só me interessam porque dão sempre para outra coisa). Não vejo que Rui Bebiano discorde disto. Como bem afirma, o partir-se de um ponto diferente para começo de análise não quer dizer que não se tenha necessariamente de passar pelo outro ponto do qual não se escolheu partir. Certo que há privilégio no ponto de partida, e em termos do nosso trabalho intelectual ele determina os nossos instrumentos e o nosso labor específico — são os constrangimentos da especialização. Mas o que importa é para onde se converge. Aí, sem dúvida que somos benignos um em relação ao outro. Mas quero crer que seremos benignos para com qualquer um que não deseje o nosso extermínio ou não nos impeça de viver e pensar os nossos erros e acertos por nossa própria conta e risco.
Os matizes em relação ao que conhecemos, e que nos levam, em muitas questões, a falar da posição oficial da Igreja Católica em vez da posição dos católicos, dando por adquirido que há católicos, e muitos, que divergem em vários assuntos da posição oficial dos seus líderes, devíamos também procurá-los em relação ao mundo árabe. A famosa “rua árabe” faz-me lembrar aquelas manifestações de apoio ao Estado Novo — aquelas pessoas estavam mesmo lá, e exactamente naquele número. E depois, no 25 de Abril, foi o que se viu.
Isto não invalida tomar a sério a “rua árabe” e desmontar os seus slogans assassinos — mas implica também procurar na “cidade árabe” aliados para essa tarefa. De outro modo, estamos a condenar O árabe em bloco, o que me parece ser um erro político colossal (porque esta minha posição é política, Carlos Leone, os textos, literatura incluída, só me interessam porque dão sempre para outra coisa). Não vejo que Rui Bebiano discorde disto. Como bem afirma, o partir-se de um ponto diferente para começo de análise não quer dizer que não se tenha necessariamente de passar pelo outro ponto do qual não se escolheu partir. Certo que há privilégio no ponto de partida, e em termos do nosso trabalho intelectual ele determina os nossos instrumentos e o nosso labor específico — são os constrangimentos da especialização. Mas o que importa é para onde se converge. Aí, sem dúvida que somos benignos um em relação ao outro. Mas quero crer que seremos benignos para com qualquer um que não deseje o nosso extermínio ou não nos impeça de viver e pensar os nossos erros e acertos por nossa própria conta e risco.
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