Comecei a ver com desconfiança e pensando que talvez o fast-forward fosse funcionar muito. Mas a primeira cena mostrou-me que havia filme. A raiva com que ela agride verbalmente o namorado que decide acabar a relação por achar que não está à altura das suas expectativas, é um achado: vemos essa raiva em camaralenta, as palavras não se ouvem mas alguns insultos percebem-se na articulação dos lábios, e em off há a narração dele, tão impassível quanto auto-destrutiva. É um desses filmes escritos, essa mistura sempre perigosa de um texto que vamos ouvindo com imagens que não se limitam a ilustrar a história.
A galeria das personagens secundárias é óptima, com a sua bizarria cómica, por vezes terna. A história acaba bem, e não há particular mal nisso. E o núcleo fantasmático do filme deixa-nos com um leve sorriso sonhador: ele, que pinta e desenha, tem a capacidade de congelar o tempo, imobilizar as mulheres que escolheu para modelo nas suas tarefas quotidianas, despi-las um pouco na sua beleza recatada, retomar depois o mundo com esse acrescento secreto e imperceptível de uns quantos traços de uma paixão benigna.
Fantasia masculina com desculpabilização artística? Talvez. Mas não será por acaso que uma das personagens femininas diz que gostaria de ser amada por um pintor: eles estão atentos à beleza que mais ninguém vê.
Voltando atrás # 4
Luís Mourão
13.1.09 |
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