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Vergílio Ferreira dizia que os místicos nada tinham a ensinar-lhe. Não era sobranceria, era comunhão num mesmo pathos da interrogação deslumbrada da existência e da aceitação louca da felicidade paradoxal do mundo.
Não quero rasurar o religioso do filme. Humanos de credos diferentes que rezam juntos, um arrojado discurso sobre o sentido da encarnação — uma humanidade que existe enquanto diferença e singularidade —, uma ética que toma as suas decisões passo a passo e conquista com sobriedade o seu limite no lugar de resistência que escolheu. 
Mas o que sobretudo me importa no filme é esse lugar humano onde a vida pode ser coisa diferente disto. O valor do silêncio e da palavra necessária, do ritual e dos caminhos aleatórios, da extrema concentração e do riso leve, da decisão mais torturada e da paz de ter decidido. Uma vida que, para se cumprir, não necessita de dominar ou explorar outra vida. São monges, estes homens? Sem dúvida. Mas são também uma história de humanidade que poderia ser contada com outras crenças ou ausência delas, e com outros intervenientes. Da mesma forma que, infelizmente, estas mesmas supostas crenças ou ausência delas poderiam ser uma história de desumanidade. 

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