Procedimentos VI



- E ias tu perguntar quanto tempo ainda... Irónico, hem? E agora que já aconteceu, nem a liberdade nem o desespero nem um mundo diferente. Estás no mesmo sítio, com os mesmos sentimentos de antes, só que todos reais. Definitivamente reais.

Procedimentos V



- E já agora, já que estamos a falar no assunto, quer dizer, já que pelo menos eu estou a falar no assunto, não seria melhor deixares-te também disto? Guardares tudo para ti próprio, esta treta do fim, esta treta ainda maior de perguntares pela treta do fim, tudo isto, tudinho sem tirar nem pôr. Tempos difíceis para a metafísica, rapaz. Ainda por cima na periferia. Ainda por cima essa coisa vaga, esta coisa vaga. Não há lá nada, pois não? Ou não sobrou nada, pois não? Diz-me, tu achas que há aqui alguma coisa? Achas que vai sobrar alguma coisa? Caramba, queria mesmo que te deixasses destas coisas, sabes?..

Procedimentos IV



- Não podes falar de outra coisa? Sempre o fim, depois do fim, para lá do fim... Cansativo. E falas de quê, afinal? Já pensaste em ir a algum médico? Ou... digamos... também era uma hipótese... guardar isso apenas para ti próprio?

Procedimentos III



Ser concreto. Não contar esta história, deixar partir esta história. Começar para lá do fim.

Procedimentos II



Deixar partir uma história no exacto momento em que ela está a acontecer. Deixar partir uma história no exacto momento em que ela se está a inventar.

Procedimentos I



Nunca contar uma história no exacto momento em que ela está a acontecer. Nunca inventar uma história no exacto momento em que ela se está a inventar.

Diablo Cody

Parece uma personagem de um filme de Woody Allen a ganhar vida. A sair de Poderosa Afrodite, por exemplo. É uma história que escreve outra história. Coisas como Pussy Ranch ou ex-stripper always naked for you têm outra ressonância quando vistas através de Juno. Mesmo sem o óscar, e mesmo sem o que nestes óscares pode haver de consentimento a esse mito americano da mobilidade social ascendente (que em todo o caso existe, é bom não esquecer). So far, so good.

Os Professores a exame # 5

Algumas notas de um outsider sobre um debate que só vi até ao final da segunda parte:
1. A Ministra explicou mal o porquê de só contarem os últimos sete anos para o concurso a Professor Titular. Falta para muita gente o registo biográfico de anos anteriores?! E isso quer dizer o quê, exactamente?
2. Num raro momento de verdade política, a Ministra disse que em todas as medidas há uma pequena percentagem de sacrificados. É verdade, chamo-lhe a roleta russa da mudança social, mas fica-se com a sensação de que não foi feito tudo o que estava ao alcance da tutela para minorar o alcance desses sacrifícios.
3. A Ministra é uma académica. E um verdadeiro académico não tem medo de algumas evidências incómodas: por exemplo, a de que não existe nenhum processo de avaliação perfeito. Essa afirmação clara cortou cerce algum argumentário dos opositores a este processo de avaliação.
4. Há coisas que já vi acontecer muitas vezes. É suposto um licenciado ter capacidade para enfrentar novos desafios, sobretudo aqueles que não são de todo estranhos à sua formação. Pede-se uma avaliação entre pares. Que fazem as pessoas? Pensam pela sua cabeça? Dialogam entre si para aferir critérios? Aceitam a maior dose de subjectividade inerente a alguns desses critérios e dispõem-se a assumir o risco de um parecer, a ser confrontado com os pareceres de outros avaliadores e a resposta dos avaliados? Não. Dizem que não têm formação para esta tarefa e que é preciso tempo, muito tempo, mesmo muito tempo para receberem essa formação.
5. A Ministra não tem habilidade política. Isto tem custos, mas não é de todo um defeito grave. A Ministra disse outrora, de facto, que poderia ter perdido os professores, mas tinha ganho a opinião pública. São coisas que não se devem dizer. Até porque raramente se dizem com inteiro a propósito. E ditas uma vez, o argumento não é reciclável. Mas ontem, a Ministra teve uma oportunidade de ouro que não usou. Mesmo sem conhecer as seis decisões do tribunal sobre o pagamento das substituições como trabalho extraordinário, poderia ter dito que o sindicato dá dos professores a imagem de mercenários. Sobretudo, depois do debate “científico” que a medida motivou no início.
6. Há quem deite fora o bebé com a água do banho. Tudo o que há para dizer sobre ensino profissional, programa novas oportunidades, etc, é que o que se lecciona está desadequado (o que é uma evidência) e que essas iniciativas só servem para melhorar as estatísticas de escolaridade? Como é que aquilo que é um imperativo social de uma sociedade democrática e uma medida urgente de qualificação não tem uma única palavra de reconhecimento? É isto de um professor (está bem, era uma professora do PSD e parece ter metido a social-democracia na gaveta, mas mesmo assim...)?
7. Até onde vi, parece-me que a Ministra se aguentou.
8. Última nota, lateral, e sob forma de triste constatação: justo ou injusto, dois terços do que a Ministra ouviu dos professores, quase ninguém numa universidade portuguesa abaixo de catedrático com nomeação definitiva se atreveria a dizer a um reitor.

Entre cinéfilos

De Daniel Day-Lewis a George Clooney, não me importava. Já de um dos republicanos a John McCain me importo bastante mais. Espero bem que se cumpra o ditado: um engano nunca vem só...

O manso apocalipse


Há dias. Não demasiado longos. Não demasiado cruéis. Não absolutamente nulos. Mas um cansaço tão real nos olhos e na nuca. Um frio tão objectivo de cutelo. Apagar a luz e demorar tanto a ser noite. Há dias.

Multiplex # 37 (dois)

De poucos filmes se poderá dizer que são em simultâneo filme de autor e filme de actor. Mas quer Paul Thomas Anderson, o autor, quer Daniel Day-Lewis, o actor, se submeteram até à despossessão aos imperativos de um cinema intencionalmente anacrónico. A efusividade pós-moderna acabou no 11 de Setembro. Agora é voltar a percorrer velhos caminhos, indo mais fundo no fim sombrio onde desembocam. É por isso que falar de Citizen Kane a propósito deste filme é só metade do caminho. O final ainda humanista de Citizen Kane colocava uma infância perdida como paraíso subsistente e paralelo a toda a ascensão ferozmente capitalista. No fundo, mostrava uma escapatória moral para a luta pelo poder: a hipótese de uma renúncia teria como prémio o regresso à inocência. Que a renúncia fosse empiricamente inviável em nada obstava ao facto de ela ocupar um lugar moral no imaginário de que se rodeava ainda a ascensão capitalista. O que é sintomático em There will be blood é que precisamente o núcleo familiar e infantil é desde o início estratégia económica e segue a lei inexorável do mercado: onde há mais do que um há competição, e onde há competição há sempre a possibilidade de o combate desembocar na pura e simples eliminação física do adversário. A esse título, o final de There will be blood é mais do que uma metáfora do devir louco do Império, é a simples e feroz desocultação do seu mecanismo lógico de sempre: o assassinato dos pares e aliados, e a afirmação clara de um ateísmo prático que se entende a si mesmo como vontade cega e auto-destrutiva. "Rosebud" dizia a possibilidade de uma outra história; aqui, a última fala após o assassinato é um sardónico "já acabei". Pano.

Multiplex # 37 (um)

Este é um tempo em que aqueles que outrora nomearam directamente a contemporaneidade mais extrema, olham de soslaio qualquer coisa que ainda não pode ser dito. Magnólia ou Pulp Fiction foram a máquina do cinema no coração do que somos. There will be blood ou Death proof reciclam, tentando fazer falar a partir de trás. O que quer que seja que venha a poder ser dito, já vinha sendo falado há muito. Mas não se sabia.
No seu mecanismo e na sua sintomatologia, There will be blood não é muito diferente de Death proof. Devoram linguagens e codificações diversas, é certo, e o patine de classicismo de There will be blood parece afastá-lo do aparente irrisório e vazio de Death proof. Mas a questão é a mesma: a auto-devoração provocada pelo exacerbamento da competição típica do capitalismo avançado. São ambos filmes claustrofóbicos, no reduzido núcleo das suas personagens e dos seus motivos traumáticos. O mundo está sempre noutro lado. Mas foi esse mundo que ruiu e que deixou às claras o ninho de víboras que sempre habitamos. Só que ainda não percebemos de todo o que aí se passa.

Os professores a exame # 4

João Paulo Sousa acusa a actual equipa do ministério da educação de surdez para o diálogo político. E condu-la até Nietzsche, o da Gaia Ciência (Die fröliche Wissenschaft, 1882): «Um nunca tem razão, mas com dois começa a verdade. Um não se pode demonstrar, mas dois já não se podem refutar» (Lisboa, Relógio d’Água, 1998, p. 184).
O que me parece aqui interessante, de algum modo sintomático, é considerar a equipa do ministério, esta ou qualquer outra, como Um. Não é por ela ser equipa que não é Um. Não é por ser parte de um governo que não é Um. Não é sequer por representar democraticamente uma maioria que não é Um. É pelo simples facto de o que quer que esta ou qualquer outra equipa pense, nunca esse pensamento é o pensamento de Um, mas já sempre o resultado de um longo diálogo/combate social.
Ponhamos as coisas de outra maneira. Por razões profissionais, ao longo dos últimos doze anos, tive de reunir com ou opinar sobre documentos de tudo quanto foi ministro e secretário de estado da educação e do ensino superior (e neste “tudo” incluo equipas e documentos de equipas constituídas por iniciativa das várias tutelas). Em meu juízo, ouvi coisas desde o muito inteligente até ao quase ridículo; às vezes vindas da mesma personalidade, conforme as áreas sobre as quais se pronunciava. Mas nunca ouvi, nunca mesmo, uma única ideia ou opinião que não circulasse já nos corredores do “meio”, que não tivesse já os seus defensores e os seus opositores; e nos casos mais polémicos, nunca ouvi uma única ideia que não circulasse já no seio da opinião pública, com as suas distorções, os seus clichés demagógicos, mas também com o seu grão de justiça ou de desejo de justiça.
Pensar, por exemplo, que a questão da avaliação dos professores é uma questão entre o Ministério da Educação actual e a classe docente é, do meu ponto de vista, um erro estratégico. Nisto, o Ministério da Educação não é seguramente Um, mas um pulular social e de opinião pública que, independentemente de alguns erros parciais no processo, quer meios de distinguir o trigo do joio. Nestas situações, a resposta da classe docente, enquanto classe, é particularmente difícil, porque raramente encontra o meio de apontar com clareza os aspectos controversos sem pôr em causa o sentido de justiça que o todo da medida visa. Outras vezes também se percebe que os porta-vozes da classe não querem, deliberadamente, fazer essa distinção. Mas nada como uma greve para se vir a perceber que nem o Ministério está tão sozinho como o Um que o mecanismo do bode expiatório tende a criar, nem a classe docente é esse Um homogéneo que alguns dos seus porta-vozes fazem crer. Digo-o com aquela distância e nostalgia de quem já perdeu lutas nas mesmas circunstâncias e pelas mesmas razões.

E tu, quem achas tu que eu sou?

Foi uma pena o cristianismo ter desviado esta pergunta para as sendas do transcendente. Num certo sentido, é das poucas perguntas que importam entre humanos, e de todas elas, talvez a mais irrespondível. Mas talvez por isso mesmo o cristianismo a tenha desviado para as sendas do transcendente. Só haverá resposta do outro lado, e mesmo assim a eternidade deve ser pouca coisa para tudo o que haverá a dizer.

Os professores a exame # 3

Meu caro João Paulo Sousa, duas coisas muito rápidas sobre a nossa conversa e mais uma para depois.
Eu acho compreensível que, num primeiro momento, e para o comum dos mortais, a decisão de introduzir um exame de acesso ao exercício da docência tenho dado a impressão de que ele é a condição única para se ser professor: um tipo aparece aí com uma formação qualquer, ou até sem formação nenhuma, apresenta-se a exame, passa — e ei-lo apto a ser professor, assim haja vaga para ele.
Ora, não será o caso. O Decreto-Lei nº 43/2007, de 22 de Fevereiro, estipula claramente que é necessário o grau de mestre num dos perfis aí definidos, além de definir com igual clareza as componentes curriculares de cada um desses mestrados, nelas se incluindo a obrigatoriedade do estágio pedagógico. O exame de acesso é mais uma prova a somar a estas, não as substitui.
O modelo de estágio foi discutido e revisto. Se não me falha a memória, já terá sido há três anos que este novo modelo de formação de professores e de acesso à profissão docente foi apresentado às Escolas Superiores de Educação e às Universidades, para discussão. Relativamente ao estágio, acabou por vingar o modelo já em uso nas Escolas Superiores de Educação. Ouvi defesas e ataques muito clarividentes sobre ambos os modelos. Não me pergunte o que penso sobre isso, porque nessas áreas me tenho portado sempre como um agnóstico de rigor.
Quanto à falta de diálogo e ao desvario que irá pelo Ministério da Educação em matérias de avaliação de professores, concursos, novo modelo de gestão das escolas, dou de barato a inabilidade política e, do que sei ou penso que sei, erros parciais que acho que seriam evitáveis com um pouco mais de pensamento sobre a “coisa”. Mas não conheço em pormenor. Há porém uma questão de fundo, para a qual o seu Nietzsche vem mesmo a propósito, de que espero poder falar amanhã.

Fim-de-semana

Assim a modos que com covers do último verão. Não tanto a música, mas o tempo, a luz, a necessidade de parar.

O caso dos incentivos financeiros

Meu caro Eduardo Pitta, eu até concordo, em princípio, que os incentivos financeiros não deveriam fazer sentido. Isto, se a realidade fosse razoável. Ora, não é.
Para pôr a coisa em termos brutos, se o telefonista pedir incentivos financeiros, para além do seu ordenado, para ser telefonista, acho que não será difícil arranjar substituto que desempenhe as funções cabalmente pelo ordenado habitual. Já um médico, não se arranja assim do pé para a mão. E isto, convirá, é um problema. Mas é um problema que tem culpados, e disso é que não se fala (ou fala-se tão pouco, que é como se se não falasse). E o problema, um clássico da lei da oferta e da procura, é que independentemente da vontade de algumas tutelas, as faculdades de medicina se têm recusado sistematicamente a aumentar o número de médicos a formar — eles bem sabem quem defendem. Sem mexer nisto, não se consegue mexer no resto.

Mas enquanto não se mexe nisto, eu não meteria no mesmo saco os profissionais das unidades de saúde familiar e os cirurgiões dos transplantes. O Eduardo acha que os cirurgiões dos transplantes não irão nunca para a privada, porque a privada não paga o que o serviço público acaba por pagar por essas intervenções. Tem toda a razão. Mas o problema é que esses cirurgiões, se fossem para a privada, obviamente não iriam fazer transplantes, iriam fazer cirurgia geral. Aquele tipo de cirurgia coberto parcialmente pelas seguradoras, e que alguma classe média paga para não ficar nas listas de espera e ser operada por alguém com pergaminhos. Sem mencionar nomes ou especialidades, posso dizer-lhe que estou ao olhar para um recibo de cirurgião de 1600 euros (só dele, há depois o resto da equipa). A intervenção durou uma hora e pouco, e pode-se dizer que foi “rotineira”. Nesse dia, fez quatro intervenções. Foi um dia calmo. É só fazer contas. Isto custa a dizer, mas neste panorama, os cirurgiões dos transplantes até fazem serviço social...

Há que atacar na raiz.

Na oficina

As demos para The Letting Go. Ou como Philip Roth fez dizer ao seu Todo-o-Mundo, a propósito de pintar (cito de cor): Os amadores, ficam à espera da inspiração. Nós, os outros, levantamo-nos cedo e pomo-nos a trabalhar.

(Alguns d') Os suspeitos do costume

Os livros ardem mal, agora também em blog.

Os professores a exame # 2

O exame terá três componentes ou partes. A nota de passagem a cada parte é 14 valores. Pergunta Santana Castilho, com a concordância de João Paulo Sousa: “Será melhor professor um candidato com 14, 14, 14, nas três componentes da prova, que outro com 20, 20, 13? Pois o primeiro passa e o segundo é excluído.” Quando leio argumentos deste tipo puxo sempre do meu Nietzsche: a verdade é uma metáfora de que já nos esquecemos que é metáfora, uma convenção cuja convencionalidade já foi naturalizada, etc, etc. Que está aqui em causa? Definir a nota a partir da qual se passa. Se o Ministério tivesse seguido a convenção em uso — passa-se com dez valores—, não me parece que Santana Castilho perguntasse: “Será melhor professor um candidato com 10, 10, 10, nas três componentes da prova, que outro com 20, 20, 9? Pois o primeiro passa e o segundo é excluído.” E contudo, a lógica do argumento aplicar-se-ia na mesma. Claro, fica-se sem saber com que é que Santana Castilho não concorda ao certo: acha que o mínimo de 14 para cada componente é demasiado? Ou acha que 14 como mínimo é uma exigência aceitável para se ingressar na profissão docente, só que entende que essa nota se deve referir à media global das três components e não à nota individual de cada uma delas? Mas se for este o caso — que parece que é —, Santana Castilho aprovaria um candidato com 20, 20, 2? É que a média seria precisamente 14… Não acredito que o fizesse. Mas a ser assim, e mantendo a média global de 14 como exigência de passagem, em que valor fixaria Santana Castilho a nota mínima de uma das componentes? Qual a sua convenção? E uma vez fixada essa convenção, que o impediria de jogar contra si próprio o mesmo argumento escandalizado que joga contra a convenção proposta pelo ministério? Etc, etc, etc…

Os professores a exame # 1

Eis então que, para se ser professor, não bastará ser Mestre na respectiva especialidade científico-pedagógica, mas também ser aprovado num exame a ser concebido pelo Ministério da Educação. Para João Paulo Sousa (retomando Santana Castilho) isto mostraria “expressamente a incongruência de um Estado que certifica instituições do ensino superior, considerando-as habilitadas para formar professores, e depois diz que eles não estão bem formados e têm de se submeter a uma nova prova.” Salvo melhor opinião (adoro estes floreados jurídicos…), não me parece existir qualquer incongruência. Primeiro, o Estado certifica instituições e cursos. E depois, porque as instituições gozam (e bem!) de uma considerável autonomia, e porque há naturais diferenças na avaliação dos alunos (não apenas entre instituições, mas dentro da mesma instituição), o Estado faz duas coisas: a) certifica-se, no final do processo académico de formação, da conformidade efectiva dessa formação; b) introduz um critério absolutamente uniforme de avaliação entre todos os candidatos que mitiga a —natural, insisto — discrepância de avaliações de que muito alunos se queixam.
Com mais tempo (mas ando-me a afastar, na medida do possível, destas lides) poderia mostrar longamente porque é que a avaliação e a certificação de instituições e cursos não é, só por si, suficiente (mesmo com um “certificador-avaliador” em cada sala de aula não o seria). Poderia contar histórias ilustrativas dos anos em que participei nas comissões de avaliação externa do ensino superior, e juntar-lhe as conclusões a que chegaram países com mais experiência de avaliação do ensino superior. Poderia dizer que este exame foi uma das propostas incluídas nas primeiras conclusões das comissões externas de avaliação dos cursos de formação de professors (e que a maioria dos alunos destes cursos a apoiava). Poderia dizer que este exame de acesso à profissão é apenas mais uma etapa de qualificação a que se seguirá, depois, um processo de avaliação ao longo de toda a carreira docente (não necessariamente nos moldes em que ele parece que vai ser feito — e digo parece porque não li o articulado legal na íntegra, apenas highlights aqui e ali…). Mas parece-me que tudo isto é matéria relativamente pacífica. Estivesse este Ministério na boa graça da classe ou, pelo menos, numa indiferença sem hostilidade, e creio bem que esta medida, de tão normal que é, passaria razoavelmente despercebida.

Cesário # 2

Quase sempre me acontece. Durante a escrita é uma espécie de “insónia” permanente, uma possessão benigna, caminhar no escuro, coisas assim. Mas não há uma ideia, um plano, aquilo que se quer dizer? Claro, há isso tudo. O problema é escrever isso tudo. E o problema maior é isso tudo deixar-se escrever. Quando a coisa acaba, nem sei muito bem como consegui lá chegar. E quando, muito tempo depois, a coisa me chega às mãos em letra de forma, a questão não é que não me recorde, o que até seria natural, mas a completa estranheza de ter podido pensar aquilo. Não é um juízo de (má ou boa) qualidade, apenas uma constatação de real estranheza.

Cesário # 1

O Colóquio, organizado pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi em 17 e 18 de Novembro de 2005. Dois anos depois, o livro, organizado por Helena Carvalhão Buescu e Paula Morão. Cesário Verde up-to-date.
Também lá estou, mas como quase sempre tratando-se de clássicos, muito ao lado: “que os erros fiquem pelo desejo”: Paulo José Miranda e a educação sentimental de Cesário. O resto, porém, é inteiramente legível, aproveita-se e, claro, recomenda-se à imensa minoria do costume.

Depois parar. Ao lado

Já pensaste que a boa pergunta talvez não seja quanto compreendes, mas quanto podes aguentar?

E outro ainda, está bem?

Não é que doa. Isso já se sabe. É que preferimos que doa a não sentir nada. Niilistas imperfeitos, desmerecedores da grande conquista do milénio. Tss, tss...

Mais um passo, sim?

O problema com as coisas insustentáveis, naturalmente, é que quase nunca sabemos a tempo que elas são insustentáveis. Quer dizer, é a questão geral da existência. E ainda se perde tempo a fazer um post sobre isto. Tss, tss...