Corpos sem cabeça, suspensos no espaço, são assim os últimos quadros de Breleur. Em seguida, olho para as datas: à medida que o trabalho sobre este ciclo avança, o tema do corpo abandonado no vazio perde o seu efeito traumático original; o corpo mutilado, lançado no vazio, sofre cada vez menos, assemelha-se, de quadro em quadro, a um anjo perdido no meio das estrelas, a um convite mágico vindo de longe, a uma tentação carnal, a uma acobracia lúdica. O tema original passa, por intermédio de inúmeras variantes, do domínio da crueldade ao domínio (para voltar a utilizar esta palavra-passe) do maravilhoso.
Milan Kundera, Um encontro, D. Quixote, p. 106-107
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