Porque é Natal

Em todas estas datas, gosto da ideia de interrupção. Interromper a vidinha, olhar alguém nos olhos, por mais distância que haja. Nunca temos a coragem completa de uma vida verdadeira, e sabemo-lo. Inventamos estas datas para não sermos estúpidos até ao fim. Pervertemos as datas que inventamos, mas algo continua a resisitir nelas. Isso é o que conta.

ps: voltarei em janeiro; vocês ficam bem sem mim, mas desejo-vos que fiquem ainda melhor

Gripe B (irra, parece que tenho de ir à bruxa; ou isso, ou meter férias de vez)


Há depois a metafísica destas situações. O que fizemos porque tinha de ser, porque era razoável que assim fosse, e de que mais tarde nos arrependemos. Um arrependimento desrazoável, quase um luxo, a esquina perigosa da culpa voluptuosa. As coisas são tão mais irónicas na idade adulta.

Gripe B (restos, arrumações)


Aconteceu. Agora parte-se daqui. Não vale a pena ser Luís Pacheco, se se passa tanto tempo em esquemas de sobrevivência quanto os burgueses passam em assegurar a sua carreira. Uma obra, ou o que quer que se lhe assemelhe, é sempre apesar de.

bloco-notas # 12 (e ainda às voltas com a gripe b)

Boa noite. Vai realizar o seu primeiro teste de hap [história das artes do palco]. Gostaria de chamar a sua atenção para o facto de que este momento nunca mais se repetirá. O momento e o que nele pretende acontecer, nem mais nem menos do que o seu primeiro teste de hap. Protelo, como já percebeu. Bom, se já tinha percebido é porque estará, talvez — talvez... — em condições de realizar o seu primeiro teste de hap. Repare bem, o seu primeiro teste de hap. Fantástico, não é? Quase que apostaria que neste momento, neste exacto momento em que está prestes a realizar o seu primeiro teste de hap, quase que apostaria que está a ser muito mais fantástico do que alguma vez pensou que poderia ser, precisamente porque há alguém que lhe está a sublinhar isso mesmo. Bom, agora vem a pergunta, para haver o seu primeiro teste de hap tem de haver uma pergunta, e portanto agora segue-se a pergunta. Mas antes quero fazer notar que, atendendo ao facto de este ser o seu primeiro teste de hap, a pergunta é também fantástica, e sobre ser fantástica está ainda dotada de toda a cotação disponível para este primeiro teste, que é precisamente toda, ou seja, a totalidade da cotação, todinha mesmo. Bom, apresenta-se agora a pergunta fantástica que carrega em si toda a cotação disponível: isto que acaba de ler, isto que vai continuar a ler e que é uma continuação do que vem lendo, isto que ainda está a ler... Espere, vamos por outro lado: se isto fosse uma fala de teatro, assim é que é, se isto fosse um exemplo apenas para efeitos de pergunta, portanto: se isto fosse uma fala de teatro, seria de Sófocles ou de Shakespeare? E porquê? Responda argumentadamente bla bla bla. Boa noite e boa sorte.

Gripe B (regressando)


Gripe B (ainda)


Nada de açucar, mel biológico com limão ritmado a chá de funcho.

Gripe B (já quase foi, de novo veio)


Cada acorde do piano na maré dos pulmões, cada acorde do contra-baixo na batida do sangue. A cabeça agradece, lá no sítio etéreo a que ascende.