Diogo Vaz Pinto, Bastardo

A juventude foi um mito fundamental da arte e da política do século XX. A juventude como lirismo ia de par com a ideia de um mundo que a cada nova geração se oferecia como uma infância disponível para todos os sonhos de futuro.Tudo isso acabou como normalmente acabam todas as coisas: transformando-se em outras sem grande escândalo nem grande proeza. Não fora o usual problema dos restos e talvez nem se desse assim tanto pela mudança.
Em Diogo Vaz Pinto o problema dos restos é o de quem veio depois e recolhe notícia vagamente elegíaca dessa idade que foi costume existir em outros, precisamente a juventude: Se alguma vez fomos jovens, foi já / num tempo em que a paixão arrefecia. / Ficámos só para estudar o eco daqueles / que se deitavam com os deuses.
Vagamente elegíaca, não lutuosa, não melancólica. Em vez da dimensão da queixa, o movimento de ironia que assume ter-lhe calhado nada em lugar do sublime:  É bom que seja demasiado tarde e já / não voltes. Teremos sempre a banalidade / do fim.
É certo que estes versos não se isentam por completo de alguma ambiguidade. Mas poucos terão este firme desgosto do presente sem procurarem qualquer nostalgia compensatória no passado: Na posse da noite que me resta, / em plena posse dos meus poderes, tenho/ só a dizer que, obviamente, me demito.
E como sempre, um radical metafísico não deixa de ser um perigoso radical político. Que alguém se demita é uma ofensa monstruosa para quem nos quer convencer do inevitável.


0 comentários: