Não acredito que a crise seja tão aguda que alguém como Manuel de Freitas tenha tido que voltar às edições de autor. As edições de autor são uma chatice para leitores da periferia como eu. Mas bem vistas as coisas, leitores da periferia como eu não contam para nada. Adiante, que Jukebox 2 não é edição de autor. Mas o que me fica desta segunda incursão pela máquina da música é afinal o hiato em que Boa Morte pode ter germinado. Entre isto: “Vinte anos depois — como tu gostas / de sublinhar —, não sabemos já o que fazer / à morte, a este inútil sobejo de vida que / deixámos de mostrar aos porteiros da noite” (p. 19); e isto: “E a morte, de repente, não era uma metáfora.” (p. 23).
Quase tudo muda quando, por estas palavras ou por outras, se fica perante o facto de a morte não ser já uma metáfora. Quase tudo o que literariamente vale a pena vem depois disso. Mas também não é menos verdade que para o compreender na leitura também é preciso já estar depois disso.
Declaração de interesses: tenho sentido uma tentação imensa de voltar ao camoniano “meu tão certo secretário”. Mas vejam o problema: como é que se pode voltar lá e continuar na lata universitária de artigo aqui artigo ali? Não, mesmo que o artigo fosse sobre o secretário não mudava nada. Tenho é que refinar na esquizofrenia, acho mesmo que não deve haver outra sabedoria.
Andando, continuando
Luís Mourão
9.4.09 |
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