A cada um o seu módico de sanidade mental. Claro, o problema é que já é preciso ter alguma para reconhecer a necessidade desse módico. Mas adiante. A cada um, portanto, o seu módico de sanidade mental. Por exemplo, Jon Stewart. É só um exemplo. Mas é um exemplo cheio de vantagens. Porque, no fundo, a realidade americana tem estranhos paralelos com a realidade portuguesa. Claro que Sócrates não é Obama, o que realmente é uma pena. Mas para compensar, a oposição republicana americana parece-se muito com a oposição portuguesa, sobretudo à direita. Jon Stewart põe-os a falar, à oposição republicana, e o que ouvimos? Que Obama está a conduzir o país para o socialismo, para o comunismo, para a ditadura, para o fascismo. Se para a maioria dos americanos isto já soa demencial, que fará para um europeu, que sobre estas coisas de socialismo, comunismo, ditadura e fascismo sempre tem algum saber de experiência feito. Em suma: deliram, o que se obviamente não é bom para eles, também não o é para o governo. O mesmo acontece com a oposição portuguesa, sobretudo à direita: falam de “querido líder”, de ditadura, perseguição, regime censório, corrupção. Falam, e nem percebem que o simples facto de poderem falar nestes termos exactos é o mais cabal desmentido da maioria das acusações que fazem. Em suma: deliram, o que se obviamente não é bom para eles, também não o é para o governo — com a tal agravante de Sócrates, infelizmente, não ser Obama. Nem termos um Jon Stewart a ajudar à festa. Resta-nos rir em americano.
Rir em americano
Luís Mourão
21.5.09 |
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