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"O público não estima as informações demasiado francas; não vê nisso utilidade, porque fica a braços com a sua própria insignificância para corrigir as coisas; e não acha prazer em ser confrontado com a verdade, porque ela lhe não permite o suspense que, afinal, promove  a veneração devida a cada caso real" [Agustina Bessa-Luís, Dicionário imperfeito, p. 97]. Aplique-se isto às caixas de comentários do "caso" Carlos Castro / Renato Seabra, como aliás de qualquer "caso": a proporção dos comentários, e da sua demência, atinge o auge logo no início, quando nada se sabe e tudo se projecta. Vai diminuindo, e consentindo alguns lances de razoabilidade, à medida que alguma confessionalidade emerge e se ensaiam explicações "científicas". Quando vier a confissão e a verdade, com ou sem a ambiguidade irredutível que as pode acompanhar, ninguém comentará e ninguém assumirá que algum dia comentou. Mas ninguém estará orfão. Há sempre novos casos disponíveis, pelas mesmíssimas razões que todos os dias os jornais nos dão notícias de primeira página.

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