Prova

Este livro é a prova acabada de que os blogs não são livros nem andam lá perto. O que há de consistente na sucessão destes textos, os seus re-envios, a sua reflexão no osso, a sua mordacidade e salutar cinismo, a forma displicente e contudo minuciosa como faz um sistema de pensamento não-sistemático — tudo isto apenas o livro o deixa claro, porque reúne, porque o suporte papel criou certos dispositivos de leitura “naturalmente” atentos ao conjunto e que retiram da ideia de conjunto uma aproximação mais informada ao fragmento, porque lemos em confronto com o todo do livro e não na roda livre da dispersão dos posts.
Claro que podemos sempre dizer que a qualidade básica estava lá, nos posts originais — é um postulado correcto mas inútil. O pensamento não vive da pressa, mas do espaço à volta para ressoar, remoer, re-pensar — e num blog não há espaço à volta. É por isso que o texto da pequena política, da espuma dos dias, fica bem num blog — passa rápido como a conversa de café ou o desabafo entre duas tarefas, essas mesmas tarefas entre as quais se faz a pausa para ler o blog. Mesmo quando a pequena política tem a nobreza de dizer respeito ao único presente que temos para viver.

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