Freud, pois claro, era um grande escritor. Também um grande escritor, sobretudo um grande escritor — eu sei que (algumas d’)as águas se dividem algures por aí. Entre os que viram um sistema (com as suas revisões, mas um sistema) e os que viram um estilo que nele estava pensando. Digamos, entre Lacan (o sistema, apesar do estilo) e Barthes (o estilo, apesar da tentativa de sistema). Adam Phillips é um descendente da linha “sobretudo um grande escritor”. Há nele um estilo que está pensando. Aqui, por aproximações sucessivas sempre na ordem do paradoxal. Quem quer que tenha dedicado um simples pensamento à monogamia sabe que a coisa se presta (talvez até em demasia) ao paradoxo. É um desses conceitos que não existe sem a sombra activa, cúmplice e movediça do seu reverso. Mas é também um desses conceitos que erradamente restringimos a uma esfera específica, neste caso a da relação amorosa e do contrato marital. Freudianamente, Adam Phillips vai mostrando que os mais apertados nós deste paradoxo estão antes ou à volta dessas situações para as quais convocamos o termo monogamia; e que situações na aparência idênticas obrigam a leituras bastante distintas. Como sempre nestes casos, não se sai de um livro assim mais ou menos monogâmico, mas com a consciência salutarmente irónica de que, sejamos quem formos, não nos é permitido sermos estranhos a isso. Mais vale, pois, arranjarmos um estilo para lidar com a coisa.
121 exercícios de estilo
Luís Mourão
25.11.08 |
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