Blindnesse [je ne sais quoi]


“Afirmou que fotógrafos não fazem muita coisa, apenas 20% do trabalho, e que quem faz uma boa fotografia na verdade é a cenografia, a direção de arte ou os próprios atores. Para ilustrar sua tese (da qual discordo, ainda mais no caso dele), completou que sempre que enquadra a Rhonda, a stand in* da Julianne Moore, sente que tem alguma coisa faltando em seu trabalho, mas quando chega a Julianne e ocupa o mesmo lugar, na mesma posição, o quadro parece iluminar-se, a fotografia se completa e a imagem passa a parecer “cinema” A tal da presença, do je ne sais quoi.”
[*Os stand in são as pessoas que, depois do primeiro ensaio, enquanto os atores vão se maquiar, ocupam seus lugares para que o fotógrafo possa iluminar a cena e ensaiar o movimento da câmera.]” (p. 17).

“Por sorte, nesse filme estamos livres desse mal, aqui podemos sempre contar com um último recurso que funciona como uma espécie de colete-salva-vidas, infalível: tudo na cena está ruim? Corta para um close da Julianne Moore. Aí é cheque-mate.” (p. 67).

Fernando Meirelles, Diário de Blindness, Famalicão: Quasi, 2008

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