Nunca se pode ter a certeza. É isso que sempre digo, nunca se pode ter a certeza. Levamos o livro para a cama, vamos indo até onde o sono deixa, depois dormimos já quase a tropeçar numa frase. São fins de dia pacíficos, usuais, se o termo não estivesse gasto talvez pudéssemos dizer simplesmente: fins de dia perfeitos.
Mas nunca se pode ter a certeza. Podem acontecer coisas um pouco estranhas: “Ele, o chapéu, assenta nela, a cabeça, como a tampa enviesada de um caixão, ou como a tampa de latão de uma velha frigideira enferrujada.” (p. 7). Mas que raio se passa aqui?.. Espera, há mais, não bastava este estranho par cabeça-chapéu, há agora também um autor que põe a história no encalço do par: “É uma tarefa cansativa, esta de contar histórias. Sempre a correr atrás de um rapazote romântico, pernalta e bandoleiro, e sempre à escuta de tudo o que ele canta, pensa, sente e diz. E o diabo do pajem não pára quieto, e nós temos sempre de ir atrás dele, como se fôssemos na verdade o pajem do pajem.” (p. 8). É por isso que eu digo que nunca se pode ter a certeza. O sono já foi desconvocado, amanhã alguém as vai pagar, mas nisso não haverá novidade nenhuma: a factura é sempre de quem lê.
O pajem do pajem
Luís Mourão
18.11.08 |
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