Creio que ao ter atravessado a vida e o mundo na mais recolhida fuga já não desejasse sequer o fogo, ou um rosto, ou mesmo deus que, como se sabe, chega sempre atrasado a todo o lado. Mas como conviver com o seu próprio inferno? Ele dizia: fazendo como forma de esperar. Ici, les nuits — toutes les nuits — ont été faites pour attendre. Ele dizia: caminhar como forma de esperar. Nada mais em redor daquele que caminha ao mesmo tempo que a sua imagem. Ambos destruídos.
Quem chegará depois de ti?
Quem nunca esteve aqui?
Desligo o telefone, esqueço o teu nome. Com a vassoura junto os estilhaços do céu do mundo. Talvez seja por isso que a paixão se constrói à mesma velocidade fulminante com que se arruina.
Insónia. Noite fria, repleta de medos. Noite sem fim. Nada.
Às vezes, tenho a impressão de ter perdido a exactidão dos gestos e das palavras. Estive tempo a mais sozinho.
Mas é preciso chamares, e alguém virá.
É preciso inventares as cores, as formas do que te rodeia. Atribuíres nomes. Desvendares o corpo amado no caos dos outros corpos.
E mesmo assim ainda terás tempo para a tristeza e para a dor. Ainda terás tempo para esse humano e absurdo costume que é o de morrer.
Dispersos # 2
Luís Mourão
14.10.07 |
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