A velocidade. Tudo o que faz a pequena rapariga tem essa velocidade triunfante da apropriação do real. Não por acaso, a pequena rapariga é aprendiz de escritora (e este não por acaso, embora diga respeito a Ian McEwan, diz também respeito à “utilidade” da própria história, como se verá no final). Aprendiz de escritor significa quase sempre: redução do real ao sentido que o sujeito lhe tenta determinar, sendo que tal sentido é por sua vez (inconscientemente) sobredeterminado pelos desejos do sujeito, que regra geral os sabe sem saber. A velocidade é a linha recta para a perdição — em termos simples, para o não entendimento. Por isso o filme (e o romance) desacelera. Acaba parado. Como é próprio da tragédia de um tempo sem deuses — foi assim, lance de dados, sem mais metafísica ou culpa. A felicidade que lhes era devida e com que o filme se acaba é já movimento onírico. Essa casa à beira-mar furtada ao tempo da história nada resgata, não é sequer um como se. Apenas outro lance de dados de uma história que não houve. Nossa senhora das coisas impossíveis que desejamos em vão, como disse o outro. Nós já aprendemos a lição. Nem isso dizemos. O filme roda para além da nossa morte. Também está certo. O mar está sempre certo.
Multiplex # 37 (dois)
Luís Mourão
23.1.08 |
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