Mesmo da poesia, que iluminava o tempo, vais
colhendo apenas a amargura; os outros procuram nela
sinais de um destino, datas curiosas, zangas, ventanias,
armadilhas, mas tu sabes —e só tu sabes —
que a tua vida é a tua vida e que o poema
é empurrado por outro sopro, por um reflexo,
um medo brutal, pela memória dos que morreram
e levaram uma parte de ti, um pouco do que havia
de comum entre ti a e a vida, esse desperdício —às vezes —,
esses momentos de glória em dias felizes.
[Francisco José Viegas, Se me comovesse o amor, Quasi: Vila Nova de Famalicão, p.44]
Repetir as vezes que forem necessárias (há sempre quem não perceba estas coisas): e só tu sabes não é o que o sujeito lírico sabe a mais do que os outros, por ter descido nele a unção da poesia; e só tu sabes é aquilo que só um sujeito pode saber sobre si mesmo, confinado à sua solidão, à sua vida que é a sua vida: o impartilhável, o que brevemente esquecemos de nós quando partilhamos o exterior em que todos os encontros são possíveis.
E só tu sabes
Luís Mourão
25.1.08 |
0 Comments
|
This entry was posted on 25.1.08
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário