isto fosse um blog que faz pausas, férias, ou qualquer coisa da mesma substância, e eu viesse aqui dizê-lo naquele jeito de agora vou ali dar um saltinho àquele lugar que não é este lugar etc e tal.
Nos inícios de Agosto a gente volta a falar.
Como se
Cidadãos debatem política
Companhia nocturna # 65
Depois, algum tempo depois, regressar.
A vida com árvores # 10
Janela aberta, vento nas árvores altas ao fundo, escrevo, re-escrevo, avanço, tenho de avançar. Do meu lugar não vejo o jardim, apenas o muro. Do mesmo branco que a página em branco no computador. Quando a laranjeira crescer virá para o meio da página. As palavras poderão pousar como pássaros. Esconder-se de outra maneira. Procurarei no verde sem ter de erguer os olhos.
Driving Miss Laura # 24
Hoje, no Expresso, secção "Livros" do Actual:
"Uma católica reflecte sobre um tema polémico: o direito a decidir da sua própria morte. Ela é a favor.
De entre aquilo a que se convencionou chamar temas fracturantes, a eutanásia é aquele que mais dúvidas e polémica levanta. Laura Ferreira dos Santos, licenciada em filosofia e professora na Universidade do Minho, aborda o assunto num livro cujo título evita, precisamente, a expressão eutanásia: "Ajudas-me a Morrer? A morte assistida na cultura ocidental do século XX". Ao substituir o termo controverso, que remete, entre outros, para o programa nazi de eliminação de deficientes, a autora indicia uma posição favorável àquilo a que prefere chamar "morte assistida". A obra é, porém, muito mais do que uma simples defesa do direito de cada um a "morrer segundo as suas próprias convicções". Dá a conhecer a diversa legislação vigente nos países europeus onde a eutanásia já foi despenalizada (estendendo também o estudo à Colômbia e a vários estados norte-americanos), discute exemplos concretos, alguns particularmente mediáticos (como o caso recente da italiana Eluana Englaro), trata com minúcia da situação em Portugal, distingue terminologias, e não recusa reflectir sobre as implicações religiosas, filosóficas, éticas e políticas que o assunto obrigatoriamente levanta. Estamos perante um ensaio sereno e bem alicerçado que não convencerá os defensores da sacralidade absoluta da vida, nem eliminará todas as dúvidas daqueles que torcem o nariz a legislação permissiva em domínio tão sensível. Apesar disso, pela clareza e seriedade de exposição, o livro de Laura Ferreira dos Santos, uma crente que já havia surpreendido pela heterodoxia do seu "Diário de Uma Mulher Católica a Caminho da Descrença" (dois volumes), vem contribuir de forma significativa para um debate cada vez mais urgente."
Ana Cristina Leonardo
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Depois de algumas horas de conversa «social»
É a questão mais simples e radical, cabe nela a filosofia toda: que fizeste com o que a vida fez de ti? É também o ralo mais implacável da escuta: porque uns falam apenas do que fizeram, como se nas suas façanhas a vida não tivesse lá posto nada de destino ou de dom; porque outros falam apenas das imposições da vida, toda a sua vontade concentrada no esculpir do queixume.
Driving Miss Laura # 23
9 de Julho, quinta-feira. 18.30h, Lisboa.
Livraria Bulhosa de Entrecampos.
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Lugar de estudo # 8 ou homenagem improvável a Foucault
Ou, talvez, o intelecto
seja esse espaço. E dali
o que se estuda por dentro
é sempre um fora sem fim.
Um fora sem fim. A mística e o ateísmo, quando consequentes, convergem nesse inumano que é o exterior livre dos egos e das personas. No mais íntimo da minha intimidade, outra coisa que mim, dizia Agostinho; ou outra coisa que é já o fora sem fim de mim, poderia ter dito Foucault (de um modo menos canhestro, ne va sans dire, que o ouvido dele ouvia verdadeiramente as Goldberg noite dentro).
Em todo o caso, nem a mística nem o ateísmo são essa música chilra em que também convergem as beatices do personalismo e os arroubos do individualismo. De grande respeitabilidade política e democrática, claro, mas também não é isso que está em causa. O que está em causa sem realmente estar em causa (porque nunca foi uma grande questão aos olhos de todos quantos opinaram sobre as grandes questões), é a dificuldade do lugar de estudo. O despojamento. A despossessão.
Tiananmen / Xinjiang
Lugar de estudo # 7
Mais difícil que ocupar o pensamento com as coisas que queremos, é tirar de lá a espuma dos dias. Estudar por intermitências não vai longe. O que por aqui vamos fazendo é linha de montagem, pouco mais.
WC Lectures # 37
... e não se pode mudá-lo? # 3
Ainda falam dos outros tempos, agora é que é alienação, em todos os canais Ronaldo, e eleições no Benfica, e Ronaldo, e eleições no Benfica, e... ah, esperem aí um bocadinho, estão-me aqui a dizer que há mais canais, e que também posso experimentar ler um livrito que a censura já acabou, ou que me posso juntar com a malta que mais de dois já não... bom, esqueçam...
... e não se pode mudá-lo? # 2
Cavaco fez muito bem em falar sobre Pinho. E fez muito bem em não falar lá sobre os gajos da Madeira, há que respeitar os poderes constitucionais, era agora o que faltava que... ah, esperem aí um bocadinho, estão-me aqui a dizer que o Cavaco também falou sobre os salários dos gestores, e distribuiu uma porrada de medalhas porque achou que e que e que... bom, esqueçam...
... e não se pode mudá-lo? # 1
Lá fora, Madoff apanhou 150 anos de prisão enquanto o diabo esfrega um olho. Cá dentro, as coisas arrastam-se anos, prescrevem, ninguém vai... ah, esperem aí um bocadinho, estão-me aqui a dizer que o tipo confessou tudo, mesmo tudo... bom, esqueçam...
Companhia nocturna # 63
Um dia ainda tenho de tentar perceber porque é que a intuição me diz para seguir certas dicas e outras não, às vezes provindas da mesma fonte. Regra geral engano-me a cinquenta por cento. Este pertencia ao lote dos “não seguir” — e como estava enganado.
Lacan sobre Manuel Pinho e os outros
Lacan, no Seminário III: “O sujeito normal é essencialmente alguém que se põe na atitude de não tomar a sério a maior parte do seu discurso interior. É por isso que o alienado representa para muitos, e sem que se chegue a dizê-lo, aquilo a que seríamos levados se começássemos a tomar as coisas demasiado a sério.”
Um Ministro deve ter um discurso interior de Ministro. E o Ministro exterior deve coincidir com o ministro interior. Manuel Pinho, como se sabe, passou-se. Quer dizer, foi sujeito normal por uns momentos, mas num lugar onde não podia sê-lo.
As consequências politicas não poderiam ser outras. O episódio é pedagógico, precisamente porque relembra a linha de fronteira entre política e não-política, uma fronteira que só existe na democracia, onde há lugar precisamente para o não-político, onde se sabe e se defende que os sujeitos da política têm também a sua reserva (saudável) de não-política.
É por isso que os comentários de toda a oposição, já depois do ministro demitido, me pareceram lacanianamente alienados. Reposta a dignidade política, nem uma palavra humana para aquilo que toda a gente percebeu ter sido humano, demasiado humano. Palavra que, ademais, teria sido profundamente democrática e pedagógica. Não. Apenas massacre. Sacrifício do touro.
A falta que fazem os ateus na política, quer dizer, os sujeitos normais.
Lugar de Estudo # 6
Chuva mansa, como a morrinha de verão sobre o mar.
Corpo sabe — tempo de ver e ouvir.
Vergílio, sempre
A Isabel Cristina Rodrigues é uma vergiliana errante. Não procede de um território teoricamente demarcado nem procura erguer uma leitura que persiga obsessivamente uma questão. Não é que haja mal algum em provir de uma teoria ou trabalhar uma obsessão até fazer dela a impessoalidade de uma estrutura — como em tudo na vida, e sobretudo como em tudo na vida da escrita, o que nos atrai ou afasta é aquilo que mostra capacidade de intensificar os nossos percursos de sentido. Mas feita a ressalva, dizer vergiliana errante é não apenas descrever um modo de aproximação múltiplo às obras de Vergílio, como sobretudo sublinhar uma qualidade: a deambulação ao sabor de alguns temas, feita de uma cultura discreta mas segura, mais preocupada sempre em mover o sentido do que fazer dele uma possível verdade. Percebe-se a rede de uma sensibilidade (crítica, literária, humana) e de uma voz que, lendo indubitavelmente Vergílio, chega a lugares porventura não-vergilianos, mas sempre na sua companhia. Os autores existem para isso, para nos acompanharem como batedores do sentido a lugares que nenhum de nós tinha visitado. E os leitores errantes para isso servem, para acompanharem os autores libertos de si mesmos enquanto autoridade.
Companhia nocturna # 62
Aquele órgão só de professores doutores por extenso # 16
A gente ouve daqui e dali e de si próprio, e o limiar da náusea vai-nos engolindo. Fuga & queixume: é triste tanta palavra que não sabe da morte de Pina Bausch. Mas é pior, é muito pior: tanta palavra que nunca soube que Pina Bausch alguma vez existiu, que pensa como se Pina Bausch nunca tivesse movido o pensamento.
Aquele órgão só de professores doutores por extenso # 15
Aquele órgão só de professores doutores por extenso # 14
E como a ti também te tinha prometido, pois aqui fica também.