Lacan sobre Manuel Pinho e os outros

Lacan, no Seminário III: “O sujeito normal é essencialmente alguém que se põe na atitude de não tomar a sério a maior parte do seu discurso interior. É por isso que o alienado representa para muitos, e sem que se chegue a dizê-lo, aquilo a que seríamos levados se começássemos a tomar as coisas demasiado a sério.”
Um Ministro deve ter um discurso interior de Ministro. E o Ministro exterior deve coincidir com o ministro interior. Manuel Pinho, como se sabe, passou-se. Quer dizer, foi sujeito normal por uns momentos, mas num lugar onde não podia sê-lo.
As consequências politicas não poderiam ser outras. O episódio é pedagógico, precisamente porque relembra a linha de fronteira entre política e não-política, uma fronteira que só existe na democracia, onde há lugar precisamente para o não-político, onde se sabe e se defende que os sujeitos da política têm também a sua reserva (saudável) de não-política.
É por isso que os comentários de toda a oposição, já depois do ministro demitido, me pareceram lacanianamente alienados. Reposta a dignidade política, nem uma palavra humana para aquilo que toda a gente percebeu ter sido humano, demasiado humano. Palavra que, ademais, teria sido profundamente democrática e pedagógica. Não. Apenas massacre. Sacrifício do touro.
A falta que fazem os ateus na política, quer dizer, os sujeitos normais.

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