A Isabel Cristina Rodrigues é uma vergiliana errante. Não procede de um território teoricamente demarcado nem procura erguer uma leitura que persiga obsessivamente uma questão. Não é que haja mal algum em provir de uma teoria ou trabalhar uma obsessão até fazer dela a impessoalidade de uma estrutura — como em tudo na vida, e sobretudo como em tudo na vida da escrita, o que nos atrai ou afasta é aquilo que mostra capacidade de intensificar os nossos percursos de sentido. Mas feita a ressalva, dizer vergiliana errante é não apenas descrever um modo de aproximação múltiplo às obras de Vergílio, como sobretudo sublinhar uma qualidade: a deambulação ao sabor de alguns temas, feita de uma cultura discreta mas segura, mais preocupada sempre em mover o sentido do que fazer dele uma possível verdade. Percebe-se a rede de uma sensibilidade (crítica, literária, humana) e de uma voz que, lendo indubitavelmente Vergílio, chega a lugares porventura não-vergilianos, mas sempre na sua companhia. Os autores existem para isso, para nos acompanharem como batedores do sentido a lugares que nenhum de nós tinha visitado. E os leitores errantes para isso servem, para acompanharem os autores libertos de si mesmos enquanto autoridade.
Vergílio, sempre
Luís Mourão
2.7.09 |
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