Há medida que vou re-ouvindo, todo o disco melhora. Um pouco mais compassivo com o açúcar de harmónica & sax, quase já nem os noto agora, até porque em verdade não são muito impositivos. Mas sobretudo, passado o primeiro arrepio de ouvir alguém pronunciar desajeitadamente o português do Brasil, é preciso reconhecer que a versão de Luiza, de Jobim, é um daqueles gestos de grande senhor que não se importa de correr todos os riscos. Podia ser, como já foi, um poema de Lautreamont dito em francês. Agora nem há essa caução tremendamente literária, nem Luiza é mainstream bossa-nova. É apenas uma canção de uma melancolia desvastadora a que Elling empresta um tom gutural que arranha em sílabas inesperadas — como essa coisa que dói por dentro e vem à tona em zonas sensíveis que até aí desconhecíamos.
Elling e Luiza
Luís Mourão
9.12.07 |
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