Algumas notas de um outsider sobre um debate que só vi até ao final da segunda parte:
1. A Ministra explicou mal o porquê de só contarem os últimos sete anos para o concurso a Professor Titular. Falta para muita gente o registo biográfico de anos anteriores?! E isso quer dizer o quê, exactamente?
2. Num raro momento de verdade política, a Ministra disse que em todas as medidas há uma pequena percentagem de sacrificados. É verdade, chamo-lhe a roleta russa da mudança social, mas fica-se com a sensação de que não foi feito tudo o que estava ao alcance da tutela para minorar o alcance desses sacrifícios.
3. A Ministra é uma académica. E um verdadeiro académico não tem medo de algumas evidências incómodas: por exemplo, a de que não existe nenhum processo de avaliação perfeito. Essa afirmação clara cortou cerce algum argumentário dos opositores a este processo de avaliação.
4. Há coisas que já vi acontecer muitas vezes. É suposto um licenciado ter capacidade para enfrentar novos desafios, sobretudo aqueles que não são de todo estranhos à sua formação. Pede-se uma avaliação entre pares. Que fazem as pessoas? Pensam pela sua cabeça? Dialogam entre si para aferir critérios? Aceitam a maior dose de subjectividade inerente a alguns desses critérios e dispõem-se a assumir o risco de um parecer, a ser confrontado com os pareceres de outros avaliadores e a resposta dos avaliados? Não. Dizem que não têm formação para esta tarefa e que é preciso tempo, muito tempo, mesmo muito tempo para receberem essa formação.
5. A Ministra não tem habilidade política. Isto tem custos, mas não é de todo um defeito grave. A Ministra disse outrora, de facto, que poderia ter perdido os professores, mas tinha ganho a opinião pública. São coisas que não se devem dizer. Até porque raramente se dizem com inteiro a propósito. E ditas uma vez, o argumento não é reciclável. Mas ontem, a Ministra teve uma oportunidade de ouro que não usou. Mesmo sem conhecer as seis decisões do tribunal sobre o pagamento das substituições como trabalho extraordinário, poderia ter dito que o sindicato dá dos professores a imagem de mercenários. Sobretudo, depois do debate “científico” que a medida motivou no início.
6. Há quem deite fora o bebé com a água do banho. Tudo o que há para dizer sobre ensino profissional, programa novas oportunidades, etc, é que o que se lecciona está desadequado (o que é uma evidência) e que essas iniciativas só servem para melhorar as estatísticas de escolaridade? Como é que aquilo que é um imperativo social de uma sociedade democrática e uma medida urgente de qualificação não tem uma única palavra de reconhecimento? É isto de um professor (está bem, era uma professora do PSD e parece ter metido a social-democracia na gaveta, mas mesmo assim...)?
7. Até onde vi, parece-me que a Ministra se aguentou.
8. Última nota, lateral, e sob forma de triste constatação: justo ou injusto, dois terços do que a Ministra ouviu dos professores, quase ninguém numa universidade portuguesa abaixo de catedrático com nomeação definitiva se atreveria a dizer a um reitor.
Os Professores a exame # 5
Luís Mourão
26.2.08 |
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