Companhia nocturna # 78


Diz Keith Jarrett que nos seus concertos a solo parte de lado nenhum, sem guião, e que pára sempre que chega a um local já anteriormente visitado. 
Eu diria que os grandes momentos desses concertos acontecem quando a música começa num lugar que não sabe ainda que é caminho que conduz a um anterior altíssimo. 
Por razões que não vêm agora ao caso, tenho horas de escuta atenta de “Blues”, uma composição que pertence a Paris Concert (1990). Só já bem lançada a faixa III de “London” (segundo cd deste Testament) alguma coisa me soou familiar, para do meio até ao final, na fixação de uma linha rítmica, desembocar e sair claramente onde começaria “Blues”. Ouvindo e tornando a ouvir III (London), é claro desde o início o mecanismo da variação, mas também o das grandes correntes oceânicas. Prolongando “Blues” até ele ser já completamente outra coisa, da mesma forma que uma corrente oceânica se mistura com outra e a deixa depois entregue a si mesma, chegamos ao início de III. Depois é só voltar para trás. Os concertos solo de Keith Jarrett são este voltar para trás, partindo de muito longe e fundo no vasto oceano.



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