Companhia nocturna # 79

Ainda o voltar para trás. Não se trata de regressar, desde um ponto extremo, a um corpo estável de “canções” ou de originais. Que é “Blues”? É um standard, mas um standard de género, sendo para todos os efeitos um original. Ou seja, é a invenção da matriz do blues segundo o modo e a sensibilidade de Jarrett. Como se toda a música tivesse de ter sido inventada por ele para lhe existir enquanto músico (que não enquanto ouvinte). Bach fez isso com as transcrições: a transcrição era tornar seu um material que lhe era particularmente adequado; depois, criava a partir da transcrição, não do original. Talvez se possa chamar a isso fazer de si mesmo um mundo de música (um pouco diferente de se situar num cruzamento de referências ou citações, coisa mais intelectual e “fria”).
Voltar para trás: partir dos confins de si mesmo enquanto mundo de música e encontrar os caminhos de regresso ao largo oceano onde tudo começou e, por isso mesmo, onde tudo se pode aquietar e a vida prosseguir quando não somos tomados pela vertigem e pela necessidade da viagem. É assim que os concertos de Jarrett terminam: com esse júbilo de quem regressa à vida entre os mortais que somos, depois de ter voltado a saber que há mais coisas no mundo do que a nossa pobre filosofia pode imaginar. Não só não é coisa pouca, como será das poucas que vale a pena.


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