Há livros cujas qualidades reconhecemos, com as quais nos identificamos — e contudo há qualquer coisa que se interpõe invencivelmente entre o livro e o nosso desejo de gostar dele.
Reconheço a secura, a ironia e o alusivo como um mérito. Reconheço o insólito e o risco de tomar como objecto e personagem um carro (é ele o amante japonês). Reconheço a mestria de uma longa metáfora filée e os lugares de amor e morte que atravessa. Um crítico de nada mais precisa.
O leitor que sou identifica-se com os andaimes desta linguagem, a ligação ao carro (também japonês, por acaso), e os lugares de amor e morte a que ele dá acesso. E contudo, senti-me quase sempre de fora deste livro. O leitor que sou precisa de mais qualquer coisa, mas não sabe o quê. Se soubesse, já teria conseguido parar de ler.
[Não, não é verdade, não quero parar de ler. Quando a identificação acontece, há apenas um intervalo maior para o livro seguinte. E faz-se a vaga promessa de re-ler.]
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