Nas nossas histórias, o sentido quase nunca é o sentido das coisas elas mesmas, mas o sentido das coisas existindo-nos. Não há mal nenhum nisso, como não há mal nenhum em inconscientemente elidirmos isso em direcção ao conforto de um suposto sentido comum.
Tomemos este poema, cujo título é suficientemente concreto para assinalar a experiência individual de uma vivência — “rua serpa pinto, nº 6, 2º esq.”: “O corredor, a alcatifa, a mesa / da cozinha, a disposição dos / quartos, a cor dos azulejos, / o branco das paredes, a vista / para o muro das traseiras. / As casas que habitámos / ainda nos habitam.” (p. 16).
Como muitas vezes acontece, o remate salta do eu para o nós, buscando fixar o sentido comum. Salto mortal? Nada disso. Muitos se reconhecerão nesse sentido comum, e precisamente por se reconhecerem nele nem se darão conta de que estão perante uma coincidência de sensibilidades individuais e não perante um “universal”. Como sei eu isto? Muito simples. Porque não coincido com esta sensibilidade individual.
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