O mundo é grande, já o sabemos. Não apenas no sentido de uma pluralidade interessante, mas também no de uma coexistência incontornável do mais interessante com o completamente desinteressante. Mas avancemos, que o ponto é outro.
Pelas indicações da RTP1 quando fez o convite, a Laura deveria entrar em directo por volta do meio-dia. Não entrou. Percalços próprios dos directos, só por volta das 12.40h começou a conversa sobre directivas antecipadas. Ao meio-dia, quando lá fui espreitar, estava a falar a Alexandra Solnado. Pelo que disseram à Laura nos bastidores, a Alexandra Solnado paga à RTP1 para ir ao programa debitar a sua auto-ajuda. Parece que o mesmo acontece com outras espécies aparentadas de auto-ajuda astrológica e por aí fora.
Não deixa de ser interessante: a fraude de uma publicidade completamente encapotada, que faz passar por reconhecimento público a compra desse mesmo reconhecimento; e o facto de o desinteressante ter de comprar a peso de ouro o simulacro do seu interesse. Claro que o interesse do “grande público” é real, convém não esquecê-lo, isto é apenas a simples regra de mercado: ninguém oferece tanta audiência como as televisões generalistas, e o que há mais por aí é gente a tentar auto-ajudar-nos a troco de uns parcos cobres. Os tempos são maus, é certo, mas o esforço que se tem de despender para que eles assim continuem faz pensar.
PS: dito isto, que fique claro que não ponho de todo em causa os testemunhos daqueles que dizem ter sido genuinamente ajudados pela Alexandra Solnado ou suas similares. A ignorância imensa das pessoas acerca dos seus próprios processos psicológicos mais básicos grita humanamente por ajuda quando as coisas apertam um pouco mais. Para quem não sabia ler, chegar a soletrar as “gordas” é uma conquista, e alguns equívocos silábicos não afectarão grandemente o sentido geral da coisa. De pouco vale esgrimir contra os “mestres” da auto-ajuda. “Alfabetizar” leva mais tempo, é menos espectacular na praça pública (de facto nem lá aparece), mas é o único caminho. Caminho sem fim, eu sei, mas essa é toda uma outra questão.
Bastidores
Luís Mourão
17.6.09 |
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