Fora os gatos e a poesia # 3

A casa tinha cães e gatos em abundância e soberana indiferença. Talvez já praticassem divisão do trabalho, porque eram sempre os mesmos que vinham inspeccionar as visitas mal entravam no quintal. Gente sem interesse, a julgar pela rapidez com que os animais de distraíam com as coisas de sempre. Uma vez houve uma reunião importante. Queriam designá-lo líder. Não o conheciam por inteiro, mas já era bom que comungassem da mesma intuição sobre as suas qualidades. Os discursos sucediam-se, ele ouvia levemente distraído. Um gato veio-se-lhe aninhar no colo e ali ficou. Quando começou a ronronar, o que discursava interrompeu-se e olhou os outros. Todos concordaram em silêncio. Tinha sido grande o engano, disseram depois entre si. Aquele que dá paz aos bichos não serve para comandar as guerras dos homens. Ninguém duvidou da sentença. Houve mais reuniões, ele nunca voltou.

0 comentários: