
Imagine-se que Grass nunca tinha dado entrevistas nem sido activista de coisa nenhuma. Imagine-se que Grass tinha apenas escrito e publicado os seus romances. Havia um romancista ou não? Havia. E esse romancista teria um pensamento? Oh, isso agora, que longa conversa... Mas arrisco uma resposta rápida, em todo o caso: não teria. Teria, isso sim, intérpretes. Mas o homem multiplicou-se em actividades – e tinha e tem toda a legitimidade para isso. E desmultiplicou-se em entrevistas, muitas das quais quiseram funcionar explicitamente como fornecendo a chave da sua posição ou do seu pensamento. E assim, para alguns admiradores ou detractores, o romancista Grass foi substituído pelo cidadão Grass. Não admira que, agora, a esmagadora maioria daqueles que criticam o cidadão Grass envolvam na crítica, como se fosse a mesma entidade, o romancista Grass (e por isso pedem mesmo a devolução de alguns prémios que, supostamente..., foram outorgados por mérito literário). É nestas alturas que se percebe que a notoriedade de certos autores impede realmente que eles sejam lidos como autores. Mas enfim, há coisas piores neste mundo...
PS1: Meu caro Rui Bebiano, em boa verdade não há sequer razão para polémica. Até estou completamente de acordo com
isto.
PS2: Meu caro Carlos Leone: se ao lado da Arendt de
Eichmann em Jerusalém colocar o Grass de
O tambor, acha que poderá manter a distinção entre um Grass
“vazio e retórico” e uma Arendt “analítica e séria”?
|
This entry was posted on 18.8.06
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
0 comentários:
Enviar um comentário