Bin preparou-se longa e minuciosamente. Uma alimentação específica, rigorosa, e todo um percurso de meditação coadjuvada por drogas. Finalmente tinha atingido o estado em que lhe era possível entrar em combustão espontânea, seguindo-se uma pequena explosão de todas as suas vísceras. Numa mesa de café ou num estádio de futebol, os danos seriam poucos. Mas num grande arranha-céus, sincronizados a um ou dois por piso, que belo efeito. E num avião, oh, num avião seria uma festa. Que fazem os outros, esses que a qualquer momento podem ser mortos? Continuam as suas vidas. Dizem simplesmente: não nos farão viver de outro modo. Tal como dantes, mantêm as suas polícias, tentam algumas novas políticas, mas não se alojaram no medo. Eis-me pois no avião para Londres, ao lado de Bin, que me fala de Pessoa: não acha que toda a essência do Ocidente se pode resumir naquele “se te queres matar, porque não te queres matar?” A incapacidade de afirmação plena, é esse o problema do Ocidente, diz Bin pausadamente. Repare que mesmo quando afirmam, o fazem de um modo que enlouquece a plenitude e desequilibra tudo: uma rosa é uma rosa uma rosa. Nós nem precisamos de dizer uma rosa é uma rosa. Dizemos apenas: a rosa. Vocês é que acrescentaram a metáfora: a rosa louca de Hiroshima. Nós dizemos apenas: a rosa. E Bin floresceu. Não me lembro de ter sonhado mais nada. Dormi bem.
Naturalmente, sonhei com Bin
Luís Mourão
11.8.06 |
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