Talvez a palavra certa seja generosidade. Em responder, em responder pensando, em responder pensando profundamente e em liberdade.
Eu explico. Nas teses sobre autores contemporâneos, acontece algumas vezes contactar-se o autor para uma entrevista. O anexo fica sempre bem, e às vezes até tem o seu interesse (e os seus perigos, claro, que o movimento de auto-interpretação de um autor não tem, por si só, qualquer autoridade particular sobre a obra que ele próprio produziu). As perguntas são razoáveis, as respostas quase sempre delicadas e gentis.
Mas até agora nunca me tinha deparado com respostas tão profundamente implicadas, tão exigentes no seu pensamento, como as que Manuel Gusmão deu para um trabalho sobre as suas Migrações do Fogo. A dimensão generosa da sua humanidade está neste simples gesto, bem longe dos holofotes mediáticos ou sequer da vasta plateia académica. Mas é isso que dá um suplemento de sentido — e de verdade, neste caso é justo dizer que também de verdade — ao seu verso: “e tudo poderá talvez recomeçar”.
Os trabalhos e os dias (23)
Luís Mourão
23.7.07 |
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