Há um lado fútil nestes exercícios de adivinhação — demo-lo por adquirido e passemos ao que se pode pensar.
Há depois uma crítica justa: a questão do falso fragmento. Apresentar-se como podendo ser significativo de uma autoria um excerto descontextualizado e que, na sua formulação pontual, até não terá as características que geralmente tornam evidente aquela autoria em particular. Digamos em avanço que o excerto de Llansol não contém de facto as suas características particulares, aquilo que a torna diferente e imediatamente reconhecível. Mas isso não só não afecta em nada a qualidade evidente do excerto, como não obsta a que o excerto seja de facto “significativo” no contexto do livro de que provém.
As várias hipóteses de autoria que foram sendo avançadas nada têm de estranho, por mais singular que seja o lugar e a linhagem de Llansol. Ruy Belo, Torga, Mário de Carvalho, Miguel Real, Eça, Vergílio Ferreira, novo heterónimo pessoano — tudo apenas quer dizer, neste ponto muito particular, que quando se trata de fazer falar o essencial do comum, os pontos de convergência são maiores do que os estilos individualizados.
Não retiro daqui qualquer lição de essência humana, apenas a ideia de que, historicamente, somos atados pelos mesmos feixes comuns, que vamos desfiando conforme podemos. E quanto mais próximo da dor nua é esse feixe, mais um certo ar de comum se torna reconhecível. Precisamente isso que, em certos momentos radicais, para além da linguagem ou de qualquer outro entendimento prévio, permite que nos reconheçamos naqueles que nos são inteiramente desconhecidos. Em qualquer lugar do mundo, em qualquer tempo do mundo — o irredutível tem também a marca do comum. Sem que deixe de ser verdade que o comum se dá a ver através das diferenças que o constituem, como tentarei exemplificar a seguir com casos tão diferentes como Eric Clapton e Keith Jarrett.
Quem é o autor? ou Arte & Contexto # 12
Luís Mourão
11.7.07 |
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