Boa educação # 9

Atenção ao degrau. Cuidado... Ui, magoou-se muito? Ah, desculpe, não me fiz entender, referia-me ao degrau do seu argumento, você ia subir sem ponto de apoio lógico.

Epifanias # 63

Nota de honorários: pagarás com a vida.
E não digas que há nisso qualquer mistério, porque não há. Há só que pagar. E tu sabes. A conversa do dom são aquelas palavras de circunstância que trocamos com o senhor da tesouraria na altura da liquidação final: o que faríamos com aquilo se não tivéssemos de lho passar para as mãos.

Epifanias # 62

Seguir a sua vida? Que tolice. Não há nenhuma vida para seguir. A vida é que nos segue a nós. O que já é um eufemismo para dizer que nos empurra amavelmente para fora de palco. Às vezes até nada amavelmente. Mas quanto àquilo que o escritor ou o pintor precisa, que não haja enganos: basta-lhe seguir a sua derrota. Que naturalmente não tem motivos nenhuns, quando muito alguns pretextos.

Epifanias # 61

O escritor estúpido ou o pintor estúpido procura sempre motivos, mas do que ele precisa é só de si próprio, precisa só de seguir a sua vida.
Kurt Hofman, Em conversa com Thomas Bernhard, Assírio & Alvim, 2006, p. 32

Os trabalhos e os dias (20)


Todos estes dias. O verso que veio de tão longe. E por vezes, num segundo se evolam tantos anos. Num momento extático a gente compreende. Para logo a seguir saber de ciência certa que por mais longa a vida, sempre o sentido correrá à nossa frente, evolando-se nos anos que não sabemos bem para onde foram, mas que deixamos partir sem mágoa, sem arrependimentos, sem desejos de eternidade.

WC Lectures # 10

"Esta criaturinha é filha de gente humilde que vive aqui e nós compramos-lhe a roupinha, os brinquedinhos, tudo, porque a verdade é que lhe queremos como se fosse da nossa família."

Onde é que eu ainda agora ouvi isto? Onde foi, onde foi?.. Exactamente! Ainda bem que não fui o único a ouvir...

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ok

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dp falamos diso. daki a mt tp. daki a mt tp mesmo.

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n cmg

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---------

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roger and over

automatic sms love message # 12

fuk and fuk YOU

automatic sms love message # 11

n acredito nisto!

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xg :)

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ok

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sim...

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eskece (:

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n complikes!

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grrr...

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quando?

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onde?

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vens?

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onde tas?

Os trabalhos e os dias (19)

Quanto trabalho para conseguir limpar um pouco a secretária. Mas já vejo com alguma nitidez a fila de coisas que tenho para fazer daqui até Dezembro. Vai engrossar, é incontornável. A gente jura sempre que não, recusa mil e uma coisas, mas acaba comprometendo-se com mil e duas. E nem vale a pena perguntar porquê, que lá no fundo dos fundos a resposta incomoda o seu tanto.

A Leitora, no seu infinito particular (LV)

Jorge Molder

Não entres. Não saias. Não fiques. Não partas.

A Leitora, no seu infinito particular (LIV)

Jorge Molder

- Não sabes isso, pois não?
- Não. Ninguém sabe. E de qualquer maneira, saber não é a melhor palavra para isso.
- E como é que sabes que ninguém sabe?
- Porque ainda se pergunta.
- Mas podia-se ter desistido de perguntar precisamente porque ninguém sabe.
- E perder uma oportunidade de fazer uma pergunta sem resposta? Nunca. É contra-natura. Está nos genes. É mais antigo que...
- (interrompendo) Já percebi.
- Mas eu não.

A Leitora, no seu infinito particular (LIII)

Jorge Molder

- Na mesma?
- Sim.
- Não é bom.
- Arranja-se uma maneira.
- Alguma ideia?
- Não.
- Continua a não ser bom.
- Mas se houver ideia, já haverá uma maneira. Isso é bom. Sabe-se onde procurar.
- Tu sabes onde procurar?
- Não.
- Continua a não ser bom.
- Mas continua, isso é o importante.
- Continuar?
- Sim.
- Tens a certeza?
- Não.

A Leitora, no seu infinito particular (LII)

Jorge Molder

- E?
- Nada. Era só isso.
- Só isso?
- Não sei mais. Devia haver mais?
- Não. Mas só isso?

A Leitora, no seu infinito particular (LI)

Jorge Molder

- Se tu viesses...
- Estou cá.
- Quero dizer: se tu viesses.
- Dessa maneira não sei.
- Sabes.
- Não sei. Não te ia mentir sobre isso.
- Não me estás a mentir, mas sabes.

A Leitora, no seu infinito particular (L)

Jorge Molder

- Sabes isso, não sabes?
- Sei. Mas saber é capaz de não ser a melhor palavra para isso.
- Não é, de facto. E não sabes mesmo, pois não?
- Nunca se sabe.
- Hum.

WC Lectures # 9

Na verdade, os intelectuais não são seres assexuados. Têm é mais órgãos sexuais do que o comum dos mortais. Felizmente, algumas mulheres sabem disso.

WC Lectures # 8

Realmente, que [tempo] presente tão inapresentável.
Quino no lugar da Mafalda, eis a fórmula.

Baudrillard # 3: segue a existência

Ana Hatherly, Labirinto de letras

Lembro de cor um dos episódios descritos num dos volumes de Cool Memories. Há algures na América um parque de diversões. Um imenso labirinto, que se prolonga por hectares e hectares, e de onde é impossível sair. As pessoas andam por lá o tempo que quiserem. Quando desistem, chamam o helicóptero para as ir buscar e seguem a sua existência.
O episódio ficou-me também como uma excelente imagem do pensamento de Baudrillard. Alguém que nos sabota as evidências mais comezinhas instalando-nos num gigantesco labirinto de onde é impossível sair. Em cada esquina há um dado novo e surpreendente, mas que se recusa a fazer sistema com o que quer que seja. Não há saída. Quando se fica cansado de pensar, para-se de escrever ou fecha-se o livro. Segue a existência. É tudo.
E no entanto, não é tudo. Porque a existência que segue não é já a existência que seguia antes da experiência do labirinto. Uma diferença feita de melancolia seca, alegria implosiva e soberana indiferença a nós próprios.
Na minha biblioteca privada, Baudrillard é Bernardo Soares re-mix. Eu gosto.

Baudrillard # 2: vendo

É exactamente assim que o lembro: este o rosto, e o preto da indumentária. Terá sido no Instituo Franco-Português ou na Gulbenkian, anos oitenta, pouco importa. Não fui para o ouvir, raramente vou por isso, mas para vê-lo falar.
Ele estava-se absolutamente nas tintas para a pose e para o contentamento de si. E também para o pensamento a pensar-se a si mesmo. Tinha a ironia da fórmula e a secura da futilidade da fórmula. O conforto de não ser bonito nem elegante. E a inteligência de não jogar no charme nem na teatralidade.
Poder-se-ia conversar com aquele homem muito tempo sem trivialidades nem filosofias. E o silêncio depois disso seria natural como fumar um cigarro ao cair da tarde.

Baudrillard # 1: lendo

Cheguei a Baudrillard na altura de Simulacros e simulação. Fez-me bem. Apesar de tudo, havia demasiado realidade, demasiado sistema, demasiado confiança na filosofia que frequentava, mesmo que derridiana ou deleuziana. Ficou-me um tom, com o seu quê de francês, é certo — jogo conceptual, snobismo do diferente —, mas também com uma absoluta e salutar e feroz crítica do que poderíamos chamar de espírito de gravidade — naquele sentido em que Derrida ou Deleuze, sendo obviamente imensos, são também de uma gravidade incontornável.
O Baudrillard dos três volumes de Cool Memories pertence ao meu cânone privado — no duplo sentido do meu gosto pessoal e de que eu deveria ter escrito aquilo (riam lá à vontade a ver se eu me importo...).
O Baudrillard final levou-me a reler Húmus de uma outra maneira — mas como já está publicado, não preciso de explicar... Aliás, isto não é para explicar nada.
Depois não houve mais Baudrillard. Como se tivesse mudado de cidade e lhe tivesse perdido o rasto. Os pensamentos e autores não são diferentes dos amigos que temos: mais chegados uns, um pouco perdidos outros.

Cuidados Paliativos e Eutanásia

A emergência dos cuidados paliativos como especialidade médica e como direito básico de saúde fez-se, em grande medida, para travar a emergência desse outro direito humano básico que é o de poder determinar, querendo, a altura e os termos em que se deseja morrer.
Como é óbvio, as coisas não têm que ser colocadas nesses termos. Do lado dos defensores da eutanásia, isso é claro: reivindicam ambas as coisas, cuidados paliativos e possibilidade de eutanásia, e reivindicam sobretudo o direito de decidir quando é que, no seu entendimento, os cuidados paliativos já não lhes são suficientes para uma vida digna.
Do lado dos defensores dos cuidados paliativos, há muitos que não querem separar a introdução dos cuidados paliativos de uma cruzada anti-eutanásia. O perigo desta posição é poder resvalar para um certo fascismo do sentido. Isso ficou bem patente no discurso de Isabel Galriça Neto: depois de sublinhar que a intervenção ao nível dos cuidados paliativos é uma intervenção técnica, que a boa vontade, o amor e o carinho, por si sós, não bastam — o que me parece obviamente acertado —, teve esta formulação assustadora: a intervenção ao nível dos cuidados paliativos é também uma intervenção técnica ao nível do sentido existencial.
Para quem passou o debate todo a dizer que se as pessoas tivessem cuidados paliativos sérios nunca pediriam eutanásia, percebe-se o que significa esta intervenção técnica ao nível do sentido: doutrinação sobre o sentido do sofrimento. Para quem não se deixe convencer, o diagnóstico é rápido: depressão. Pela cabeça de Isabel Neto não passa a ideia de que alguém, no pleno uso das suas faculdades, peça para morrer. Isabel Neto só entende o Outro quando visto ao espelho das suas convicções — é isto o fascismo do sentido. O fascismo político é quando alguém como Isabel Neto pudesse determinar que nem há sequer que discutir a questão, porque o simples facto de colocá-la releva já da depressão social, da cultura de morte e outras coisas que tais.

Publicidade Institucional

Hoje, na RTP2, a partir das 14h, no programa Sociedade Civil, debate sobre Eutanásia com Laura Ferreira dos Santos, filósofa, Isabel Galriça Neto, médica de cuidados paliativos, e Carlos Pinto de Abreu, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados.

Epifanias # 60

Sol quente. Três máquinas de roupa a secar: miudezas, lençóis, toalhas. O gesto de dobrar e cheirar antes de guardar. Fechar os olhos para ser só o cheiro. O sol à mistura com o sabão natural no silêncio escuro do quarto. Os pequenos prazeres da vida material. Ou da vida animal que é nossa.

A Leitora, no seu infinito particular (XLIX)

...
then the sun came out of the clouds
and charged up the satellites
we all got our energy back and started talking again

it’s the blessed routine
for the good the bad and the queen
walking out of dreams with no physical wounds at all
...

casmurrice

não me conformo, não há direito, eu sei lá, assim não brinco, pronto
mas por outro lado não queria deixar de ser dos primeiros gajos na blogosfera (serei? hum, palpita-me que sim...) a entrar no guinesse das irrelevâncias por assinalar o passamento de um blog
feito isto, a verdade é que não me conformo, não há direito, eu sei lá, assim não brinco, pronto

Boa educação # 8

A minha inteligência teria grande prazer em encontrar-se com a sua inteligência. Diga-me onde a deixou que eu irei lá ter com ela, não me custa nada. A sério.

Psicopatologia da vida quotidiana # 24

Avaliação da condição física no ginásio. Depois de me pesarem, medirem e sondarem a uma espécie avançada de raio-X, ele & ela, técnicos, propõem-me: programa de queima de gorduras, por excesso de matéria adiposa; programa de cuidados metrossexuais, por excesso de matéria pilosa.

WC Lectures # 7 [raccord]

Chove e, furtivamente, com o som
de fundo dos concursos e doutras histórias
televisivas, abril volta a ser o
mais cruel dos meses e a alegria
parece reduzir-se a um cigarro que
se partilha em silêncio com os vizinhos.

Carlos Bessa, Dezanove maneiras de fazer a mesma pergunta, Teatro de Vila Real, 2007, p. 21

WC Lectures # 6

Lisboa, cidade-estado

Re-aparição de Carlos Leone: Lisboa, cidade-estado. Seria interessante um Partido Socialista com esse pensamento...
Mas temo que Lisboa seja menos a cidade e mais o Estado. Sócrates está bem, logo o Partido está bem. E que não fosse Sócrates nem este o Partido, a coisa seria a mesma — foi a mesma. Ou não foi?
Em todo o caso, sou um feroz adepto das causas perdidas.

WC Lectures # 5

Quino muito preocupado com monstruosidades alimentares. Por causa dos mesmos pobres de sempre: ou morrem à fome, ou morrem envenenados. Mas com esta particularidade irónico-suicida: no envenenamento, morrerão também os que lucram com o veneno. É o Manelinho num dos paradoxos finais do capitalismo... [finais? oh santa ingenuidade, coisa ruim não morre; ou só morre no fim dos tempos, como é sabido da teologia, e o fim dos tempos está muito para lá dos nossos tempos]

WC Lectures # 4

A Leitora, no seu infinito particular (XLVIII)

- Vais-lhe dizer da tua perplexidade?
- Claro. Se a coisa fosse só entre blogs e jornais, é como o outro...
- Queres tu dizer, nas tintas.
- Isso. Agora o cunnilingus...
- É demasiado importante para se meter entre aqueles dois.
- Uma desfeita, na verdade. E depois há a questão de princípio.
- De princípio?
- Não invocar o nome do cunnilingus em vão.

Os trabalhos e os dias (18)

“Bem, então já eu escrevia romances, bem longos, assim umas trezentas páginas, coisas realmente impossíveis, não é? Um chamava-se Peter vai à cidade, e já eu estava na página cem e ele ainda continuava na estação de caminho-de-ferro. Pois bem, nessa altura acabei, o plano estava errado. Ele ainda nem sequer tinha entrado no eléctrico e já lá iam cento e cinquenta páginas.” [Kurt Hofman, Em conversa com Thomas Bernhard, Assírio & Alvim, 2006, p. 51].

Recomeçar, a ver se consigo acabar. Esta parte. Eu sei, nunca se acaba. Nós acabamos, mas o que fazemos não. Começamos uma nova coisa, e é sempre a velha coisa em transformação. Mas esta parte. Acabar esta parte. Ao menos esta parte.

Multiplex 28

O Bom Pastor, Roberto de Niro

- Pensei que o filme fosse outra coisa. Esta é a mais lógica abordagem da CIA: uma agência de espionagem criada segundo um plot que alimenta sempre o segredo em todas as suas dimensões.
- Depois de Le Carré, é chover no molhado.
- Também me parece. Salvo aquele diálogo “étnico”. Os negros têm a sua música, os italianos têm a família, os irlandeses têm a sua pátria e os brancos americanos...
- ... têm os Estados Unidos da América. Todo os outros estão lá de passagem.
- Uma verdade inconveniente?
- Mais uma farpa...
- E quando veremos um filme mesmo filme, este ano?
- Isso agora...

Respirar

pista dois, segundo disco

Aquele órgão só de professores doutores por extenso # 5

Deixai os mortos enterrar os seus mortos.

Aquele órgão só de professores doutores por extenso # 4

O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente. Nada de novo nisto. Já todos vimos o suficiente para confirmarmos a regra e admirarmos as excepções.
Num órgão colegial, o poder é da maioria dos votos. Lugar também para a corrupção das alianças de circunstância e as manobras tácticas. Nada de novo nisto.
Mas o mais antigo mesmo, talvez tão antigo quanto a humanidade ela própria e por isso o mais espantoso, é o poder que cada um toma da importância de si mesmo e das suas ideias. O poder de si corrompe moralmente. E o poder absoluto de si é o espectáculo da corrupção moral que envergonha todos os que são obrigados a presenciá-lo.