Epifanias # 57

A moeda do tempo tem também destas coisas. Há quase dois meses que este Keith Jarrett me é companhia assídua, às vezes permanente. Não sei bem porquê — quer dizer: sei sem saber; não quero aprofundar nem uma coisa nem outra; tenho direito aos meus pequenos segredos sem importância nenhuma; etc —, só agora me apetece falar dele.
Eis a primeira história. Pista dois do segundo disco. Começa por soar conforme àquelas melodias que há vinte anos atrás identificavam a parte solar do estilo Jarrett. Só que agora, com vinte anos em cima, o sol é mais intenso naquilo que dá a ver: ninguém como Jarrett descobre o pormenor e as dobras, seja na melancolia, no ritmo ou na exaltação. A isto chama-se envelhecer bem. É isto que torna imperdoável certos auto-convencimentos de quem atingiu um topo e não se pergunta que coisas mais há ainda para perguntar. Mas também é isto que salva dessa colossal perda de tempo que é a raiva e o ressentimento. Para quê isso, quando se pode dançar assim? Pista dois, segundo disco.

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