Dispositivo Agamben # 3. Quod erat demonstrandum



A questão política, portanto. No âmbito foucaultiano, os dispositivos tinham uma estreita ligação com os mecanismos de controle e poder. Digamos, para abreviar, que a grande vantagem dessa estruturação era que ela concedia, em bom rigor simétrico, um lugar claro à possibilidade da resistência e da revolução. Em Agamben, o controle e o poder está em toda a parte e em parte nenhuma, o que torna indeterminável o lugar simétrico da resistência. Agamben não actualiza Marcuse e a sua ideia de uma sobre-repressão doce e consentida, mas o efeito final é muito parecido, se bem que, parece-me, muito mais poderoso enquanto leitura do que existe. Onde Marcuse lia alienação, Agamben lê tecnologia e consequências da sua auto-reprodução, isto é, um modo operativo que não é afectado pelo grau de consciência que sobre ele possamos ter.
Ora, se esta deslocação do problema me parece exacta, algumas das inferências que dela se retiram parece-me que falham o essencial. Não haver lugar reconhecível para a resistência não impede que se resista. Aliás, o lugar reconhecível da resistência era tanto mais afectado de vão utopismo quanto mais fortemente burguês e democrático era o lugar reconhecível do poder. A disseminação do poder, que em todo o caso não impede que algumas das suas estruturas anteriores se mantenham, obriga a disseminar a resistência em micro-causas de subjectivização mais fina. Pondo a questão em termos simples: que leva alguém a deixar o zapping para retomar uns posts sobre uma pequena obra de um tipo chamado Giorgio Agamben?

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